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    Poema recém-descoberto de Machado mostra evidente influência romântica

    WILTON MARQUES
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    16/03/2015 02h18

    No dia 9 de setembro de 1856, Machado de Assis, então com 17 anos, publicou no jornal "Correio Mercantil" (1848-1868) o poema "O Grito do Ipiranga".

    De antemão, a grande novidade desse texto, datado de 7 de setembro de 1856, reside no fato de que ele nunca foi coligido pelos estudiosos da obra poética do escritor carioca. Em outras palavras, é um poema esquecido e inédito.

    Para além da mera curiosidade do achado, "O Grito do Ipiranga" é antes de mais nada um texto de juventude, o que obviamente explica sua qualidade estética ainda algo hesitante.

    No entanto, o seu (re)aparecimento no universo literário machadiano é um acontecimento importante, sobretudo por não apenas lembrar que, ainda hoje, o principal escritor brasileiro não tem sequer sua obra literária completamente mapeada e/ou publicada, como também por trazer em si algumas informações novas sobre Machado Assis, seja em relação a aspectos biográficos desconhecidos, seja em relação à evidente influência romântica na fatura do texto.

    Desse modo, e ao contrário do que afirma o crítico Jean Michel Massa em "A Juventude de Machado de Assis - 1839-1870" (Unesp) de que foi em outubro de 1858 que Machado publicou seu primeiro texto no "Correio Mercantil", "O Grito do Ipiranga" é, na verdade, a sua primeira contribuição ao jornal.

    Tal fato traz naturalmente novas indagações aos estudos machadianos, notadamente no que diz respeito ao seu processo de inserção na grande imprensa do Rio de Janeiro, num período da vida do autor sabidamente carente de maiores detalhes.

    Quanto ao poema, além da presença temática de referenciais histórico-literários clássicos (expediente, digamos, altamente machadiano), a louvação a d. Pedro 1º se dá não apenas no exagero da comparação com Napoleão Bonaparte, mas sobretudo na explícita referência romântica ao Brasil através de elementos da natureza local, como marcas de nacionalidade (floresta tropical, sol ardente, oceano, etc.).

    SURPRESA

    Essa, aliás, é uma novidade em Machado. Tanto que, pouco tempo depois, o escritor não apenas abandonará tal postura nacionalista como, inclusive, tecerá varias críticas a ela, notadamente no ensaio "Passado, presente e futuro da literatura brasileira" (1858) e, posteriormente, no famoso "Instinto de Nacionalidade" (1873).

    Enfim, "O Grito do Ipiranga" é mais uma agradável surpresa do velho Bruxo e, com certeza, renderá algum pano para manga nos estudos machadianos. Isso, no entanto, já é outra história...

    WILTON MARQUES é professor de literatura brasileira da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

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