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    Crítica: Biografia narra insegurança de Elis Regina sem botar panos quentes

    LUIZ FERNANDO VIANNA
    COLUNISTA DA FOLHA

    17/03/2015 02h02

    Além do admirável empenho para contar com minúcias a vida de Elis Regina, Julio Maria teve um aliado: o tempo.

    Odiada por familiares e amigos da cantora, "Furacão Elis", a biografia lançada por Regina Echeverria em 1985, tinha como adversária a proximidade (três anos) da morte da biografada, quando tudo ainda era muito doloroso.

    Julio Maria chegou a seus entrevistados quando estavam mais abertos para falar, e alguns fatos haviam deixado de ser tabu, como o uso de cocaína no final da vida. A mistura da droga com álcool a matou.

    O jornalista é feliz ao narrar os embates (com os outros e consigo própria) da artista adolescente. Convicta de seu enorme talento, ela tinha uma família dependente de seu sucesso e empresários dispostos a transformá-la em qualquer coisa que rendesse uns trocados.

    O livro mostra como Elis, para se tornar aos 20 anos a mais original e então mais popular cantora brasileira, superou barreiras que poderiam ser insuperáveis para quem não possuísse tamanha gana de vencer –o que ou quem fosse.

    O outro lado da moeda, como a biografia relata sem botar panos quentes, era uma extrema insegurança, que a levava a exigir reconhecimento e lealdade o tempo todo.

    Os ataques a outras cantoras (o a Nara Leão em 1967 é de uma grosseria inacreditável) e os tumultuados casamentos são retratos dessa insegurança.

    O poder da sua voz é sempre ressaltado por Julio Maria, até com explicações técnicas. Mas, também, a sua tendência à autodestruição, algo que pode tê-la impedido de se consagrar como uma das maiores cantoras do mundo.

    O jornalista comprova o que todos sabemos: não é possível contar a história de uma figura pública sem conhecer ao menos parte de sua vida pessoal. A liberdade dada a ele pelos filhos de Elis é exemplo a ser seguido pelos artistas-censores.

    É claro que há senões, como espaço demais para pequenas polêmicas –caso da briga judicial pós-show "Falso Brilhante"– e alguns escorregões de estilo. Ao falar da ansiedade de Elis e do jornalista Renato Sérgio antes do primeiro show dela no Beco das Garrafas, no Rio, ele escreve: "Um toque em suas bochechas e explodiriam de excitação".

    Mas a história de Elis está inteira no livro. Tratada com respeito, porque tratada com verdade.

    ELIS REGINA - NADA SERÁ COMO ANTES
    AUTOR Julio Maria
    EDITORA Master Books
    QUANTO R$ 49,90 (424 págs.)
    AVALIAÇÃO ótimo
    LANÇAMENTO nesta terça-feira (17), às 18h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, av. Paulista, 2.073, tel. (11) 3170-4033; grátis

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