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    Em duelo de malvadas, beijo gay de 'Babilônia' faz aceno para a paz

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    COLUNISTA DA "SÃOPAULO"

    18/03/2015 02h35

    Ambição, inveja, traição e vingança costuraram uma espécie de camisa de força, imobilizando o público no sofá diante do capítulo de estreia de "Babilônia", nova novela das 21h da Globo. Em meio ao duelo das protagonistas malvadas, o sopro de esperança veio de duas distintas senhorinhas, ambas de 86 anos, que, logo de cara, tascaram um beijaço no horário nobre.

    A inesperada cena do beijo gay entre as personagens de Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) rendeu, além de muita surpresa, repercussão nas redes sociais, nas quais o ato ganhou peso de artilharia direcionada a políticos resistentes a questões LGBT.

    Reprodução/TV Globo
    Cena da novela 'Babilônia', da Rede Globo
    Cena da novela 'Babilônia', da Rede Globo

    Um dos defensores da causa gay, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) comemorou: "O choro é livre, reacionários e fundamentalistas e fascistas e homofóbicos. Eu vivi pra ver! Parabéns, #Babilônia".

    Faz mais de um ano que o primeiro beijo de amor entre dois personagens gays em uma trama do gênero causou frisson no Brasil. Foi em janeiro de 2014 entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), em "Amor à Vida", de Walcyr Carrasco.

    Aguardada, a cena foi ao ar, vale registrar, no capítulo derradeiro. À época, chegou a ser comemorada em bares de São Paulo como se fosse um gol de fim de Copa. Figurou entre os "trending topics" e rendeu elogios tanto de ativistas quanto do público em geral.

    Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, autores de "Babilônia", chegaram com o pé junto à porta. De forma ágil e eletrizante, o primeiro capítulo foi bem-sucedido ao apresentar os personagens principais, dispensando os secundários para os episódios que virão.

    A novela deve seguir por um terreno de surpresas e tensão, em que o público não encontrará espaço sequer para respirar diante das maldades da elegante e dissimulada Beatriz (Glória Pires, em um de seus melhores papéis) e da rancorosa Inês (Adriana Esteves). Regina (Camila Pitanga), a mocinha, exibiu doses ingênuas de bondade.

    Resultado: enganada por Luís Fernando (Gabriel Braga Nunes), ficou grávida dele, homem casado. Perdeu o pai, Cristóvão (Val Perré), uma das vítimas de Bia. Agora, fará de tudo por vingança.

    Ao menos na abertura, os autores deixaram claro que, num país em ebulição, não há tempo para firulas.

    O beijo gay de Teresa e Estela, que surgiu embalado por uma canção de Bethânia logo na primeira cena do casal, acontece num momento em que a Câmara dialoga com o passado em questões ligadas aos direitos de mulheres e LGBT. Eleito para a presidência da Casa com apoio da bancada evangélica, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é uma pedra no sapato de militantes e defensores de pautas mais progressistas no Congresso.

    O peemedebista não nega sua bandeira contra o casamento gay e já se manifestou contra a adoção de crianças por casais homossexuais.

    Em "Babilônia", Teresa e Estela, que, há 30 anos, formam um casal, criam como filho Rafael (Chay Suede).

    Elas vão defender com unhas e dentes o direito à nova família. Elas têm pressa. "Babilônia" também.

    NA TV

    Babilônia

    Exibição da novela

    QUANDO seg. a sáb., 21h, na Globo

    AVALIAÇÃO ótimo

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