A farsa "Vanya e Sonia e Masha e Spike" brinca com personagens e situações de Anton Tchékhov.

Remete à peça "Tio Vânia" para Vanya e Sonia; às "Três Irmãs" quando se acrescenta Masha; à "Gaivota" para Nina e também Masha, Vanya e Sonia, inspirados em parte em Arkadina, Treplev; ao "Jardim das Cerejeiras"que rodeia a casa onde se passa a história.

Fecha assim a lista dos quatro clássicos do autor russo (1860-1904), influência central há mais de um século.

O americano Cristopher Durang diz que revisitou o cânone tchekhoviano ao se descobrir com a idade aproximada de tio Vânia –e revisitar o passado, como o personagem.

É uma peça nostálgica, mas que trata a angústia existencial de seus modelos de forma bem mais leve –até popularesca, com humor que beira o "camp". Dois papéis e seus atores, em especial, têm cada um seu grande momento dramático na montagem brasileira.

Elias Andreato, como Vanya, faz um emocionado e patético desabafo contra a superficialidade contemporânea –e é merecidamente aplaudido em cena aberta. Patrícia Gasppar, como Sonia, é pungente ao se mostrar no limiar de romper com a introspecção e sair pelo mundo.

Como Masha, Marília Gabriela não destoa, tem boa voz e tempo de comédia e convence como estrela em crise, mas do trio central é quem fica devendo exposição maior de angústia tchekhoviana –o que se deve ao original, em parte ao menos.

Paralelamente, Cassandra, personagem clássico de Ésquilo, Sófocles e Eurípides, não de Tchékhov, surge como uma faxineira engraçadíssima, interpretada pela "zanni" Teca Pereira.

Dirigindo num gênero novo para ele, Jorge Takla se sai bem nas atuações e na coesão que consegue do elenco, mas cenografia e figurinos soam por vezes, em seu realismo, decorativos e pesados.

VANYA E SONIA E MASHA E SPIK
QUANDO sex., às 21h; sáb., às 17h e às 21h; dom., às 17h
ONDE Teatro Faap - r. Alagoas, 903, tel. (11) 3662-7232
QUANTO R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO muito bom