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    Há 50 anos, Bob Dylan lançava disco que mudou sua carreira

    ALEXANDRE MATIAS
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    22/03/2015 02h20

    Bob Dylan entrou no estúdio da Columbia em 13 de janeiro de 1965, para três dias de gravação. Fazia cinco meses desde seu encontro com os Beatles, o que lhe obrigou a repensar seus próprios rumos. O resultado foi um disco que mudou completamente sua biografia e a história da cultura pop, "Bringing it All Back Home".

    No fim de 1963, Dylan começou a abandonar o personagem "gente humilde" com o qual conquistara a cena folk e uma legião de devotos. O americano havia sido filhote dos primeiros dias do rock'n'roll, mas deixara o ritmo em favor de Woody Guthrie, o bardo folk que era o símbolo da música do povo oprimido dos EUA.

    Então, em 1964, o sucesso e a energia dos Beatles o reanimaram –sem contar que eles eram ingleses inspirados por música americana. Era hora de trazer aquela energia de volta para casa –daí o título do disco.

    Editoria de Arte/Folhapress

    E foi com essa disposição que entrou no estúdio nova-iorquino. Trouxe um calhamaço de canções que misturavam citações bíblicas, a história dos EUA e poesia francesa do século 19, empilhando citações de forma cínica, completamente distante do Dylan heroico do ano anterior.

    Sentou-se ao piano na maior parte do dia, colocou o guitarrista John Sebastian, que nunca havia tocado baixo, para assumir o instrumento, e o novato Kenny Rankin na guitarra elétrica, o que também nunca havia feito.

    Seu lado A, elétrico, começa com a avassaladora "Subterranean Homesick Blues" confundindo completamente o ouvinte, ao misturar política, frases de efeito e a paranoia da Guerra Fria.

    Na mesma linha, a cáustica "Maggie's Farm", na qual declarava que não trabalharia mais na fazenda de Maggie –um chute no saco dos fãs que o queriam cantando a caipira música folk.

    "Love Minus Zero/No Limit" trazia paixão em forma de poesia pura: "Meu amor, ela é verdadeira, como gelo, como fogo".

    No lado B, acústico, o disco apresentava músicas que mostravam que Dylan, mesmo só ao violão, estava indo muito além do folk.

    Graças a canções como a enigmática "Mr. Tambourine Man" ("Faça-me desaparecer através dos anéis de fumaça da minha mente") e as cruas "Gates of Eden" e "It's Alright, Ma (I'm Only Bleeding)".

    O disco terminava com uma de suas canções mais emblemáticas, "It's All Over Now, Baby Blue", que desafia o ouvinte ao mostrar que as regras haviam mudado: "Strike another match, go start anew" – "risque outro fósforo (ou comece mais uma briga), vamos começar tudo de novo."

    Mal sabiam –Dylan e fãs– como tudo iria mudar no decorrer de 1965. "Mr. Tambourine Man" iria parar no topo da parada dois meses depois graças a uma versão dos Byrds que inaugurava o folk rock. Os Rolling Stones gravariam "Satisfaction" inspirados pelo pedal que Dylan usara em "Subterranean Homesick Blues".

    O próprio Dylan gravaria sua canção-símbolo, "Like a Rolling Stone", em menos de um semestre, além de fechar a tríade de discos que o consagrou ("Highway 61 Revisited", 1965, e "Blonde on Blonde", 1966) em pouco mais de um ano.

    O rock deixara de ser visto como música de adolescente. E está tudo ali em "Bringing it All Back Home", lançado em 22 de março de 1965.

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