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    Longa 'Eden' retrata cena francesa eletrônica dos anos 1990

    GIULIANA DE TOLEDO
    DE SÃO PAULO

    21/03/2015 02h45

    "Você não pode continuar sendo DG", diz a mãe de Paul Vallée –protagonista do longa francês "Eden"–, que não entende a profissão do filho nem ao menos para conseguir acertar a palavra DJ.

    É numa alternância de momentos de sucesso e, principalmente, de perrengues, que a vida do jovem é narrada no filme, em cartaz em São Paulo, após passar pelos festivais de Toronto, Nova York e San Sebastián.

    A direção da francesa Mia Hansen-Løve teve orientação próxima de quem viveu a cena de música eletrônica de Paris na década de 1990.

    Seu irmão mais velho, Sven Løve, corroteirista do longa, é DJ e, de fato, teve uma dupla chamada Cheers, como a do filme, considerada pioneira na cena do garage francês. Assim, Paul é uma espécie de alter ego. "Diria que 50% da história é autobiográfica e 50% é ficcional", explica ele à Folha.

    Na conta da realidade, está a amizade com Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter, os humanos por trás das máscaras de robô do duo Daft Punk. Como garotos desajeitados, os DJs são mostrados no filme sendo barrados em portas de festa, apesar do sucesso nascente nas pistas. Aparecem de cara limpa –a mente nem tanto. Em uma cena, servem uma carreira de cocaína.

    "Eles apoiaram o filme desde o começo. Não nos fizeram restrições, mas nos deram muitos conselhos", diz Sven.

    Divulgação
    Vincent Lacoste (esq) e Arnaud Azoulay em cena do filme 'Eden
    Vincent Lacoste (esq) e Arnaud Azoulay em cena do filme 'Eden'

    AÇÃO ENTRE AMIGOS

    Um grande apoio da dupla foi a barbada pela qual licenciaram quatro músicas para o longa: € 3.000 (cerca de R$ 10.400), valor muito abaixo do mercado.

    A iniciativa serviu para que os demais artistas da trilha baixassem também os preços, em solidariedade com a produção independente. O orçamento inicial era de US$ 1 milhão para pagar os direitos, valor que não teriam.

    O esforço parece ter valido a pena. Na sala do cinema, o DJ paulistano Mario Fischetti aponta para seu braço arrepiado enquanto uma multidão dança em uma cena ao som de "Promised Land", hit do DJ e produtor americano Joe Smooth –hino das baladas de house de Chicago.

    A trilha é elogiada também pelos DJs Gui Boratto e Renato Ratier, que, assim como Fischetti, assistiram a "Eden" a convite da reportagem.

    "Achei muito verossímil. Me emocionei porque fala de clubes onde já toquei", diz Boratto. "Sou muito influenciado pelo french house."

    Para Ratier, a identificação veio também por lembrar os dilemas que enfrentou quando decidiu ser DJ. "Sou filho de uma família tradicional de agropecuaristas. Sempre houve uma expectativa grande de que eu cuidasse dos negócios da família. Fui muito cobrado por isso", conta.

    Para Fischetti, a trajetória do protagonista deixa uma lição. "O Paul fica preso a um estilo. Ele acredita que a ideologia dele é a ideologia da pista também. O problema é que a pista quer coisa nova."

    "Estamos falando sobre os DJs que não são superstars, mas jovens apaixonados apenas tentando viver disso", diz Sven, que segue como DJ. "Ainda me divirto às vezes com isso, mas não como antes. Agora paga meus estudos", diz ele, que começou mestrado em escrita criativa.

    'EDEN'
    QUANDO Em cartaz
    ELENCO Félix de Givry, Pauline Etienne, Vincent Macaigne
    PRODUÇÃO França, 2014, 16 anos
    AVALIAÇÃO bom
    QUANDO em cartaz

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