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    Grifes apostam na beleza de mulheres mais velhas em peças publicitárias

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    23/03/2015 02h00

    Os padrões de beleza no mundo da moda mudam de tempos em tempos, mas sempre apoiados na idealização da juventude, uma estética baseada na batalha inglória pela pele e o corpo perfeitos. Não nesta temporada.

    Em fevereiro, durante a semana de moda de Nova York, as bancas exibiam a palavra "fashion" em letras garrafais e a imagem da cantora Joni Mitchell, 71, estampada na capa da revista "New York".

    Estrela da campanha do projeto musical da Saint Laurent Paris, a canadense é uma lenda da música folk rock, famosa por hits como "Both Sides Now" e "Big Yellow Taxi".

    "Quero fixar meu legado. Tem sido massacrante", disse à revista, sobre a dificuldade de preservar sua imagem numa cultura musical efêmera.

    Phoebe Philo, estilista da grife francesa Céline, foi uma das que apostaram na beleza um tanto à moda antiga. Ela escolheu a escritora e ensaísta americana Joan Didion, 80, para aparecer de óculos escuros e em pose glamorosa na atual campanha da marca.

    A decoradora americana Iris Apfel, 92, referência de estilo desde 2011, quando o Metropolitan Museum, em Nova York, organizou uma mostra de seu guarda-roupa, aparece na nova peça publicitária da grife Kate Spade New York.

    Beirando os 70, a artista performática sérvia Marina Abramovic é uma das modelos da atual campanha da marca francesa Givenchy.

    "É apenas uma beleza diferente. Existe a beleza dos 30, dos 40. Por que não haveria a dos 70, porra?", dispara Elke Maravilha, que aos 70 anos estrela a única campanha nacional com um modelo velho, a do estilista mineiro Lucas Magalhães, uma das grandes promessas da moda.

    Como top dos anos 1960 e 70, Elke desfilou para estilistas como Zuzu Angel (1921-1976), de quem era amiga.

    "Estou velha, sim, e acho horrível quem procura a juventude a todo custo, essa história de 'sou velha mas tenho espírito jovem'. A beleza de envelhecer é provar tudo o que a vida pode oferecer em diferentes momentos. Talvez seja essa a mensagem que os estilistas querem passar", afirma.

    A coleção de cores vivas, inspirada no Nordeste, diz o estilista Lucas Magalhães, tinha tudo a ver com Elke.

    "Minha geração cresceu vendo Elke na TV [como jurada do "Show de Calouros", do SBT] e trabalhar com ela é resgatar memórias. Afinal, nós estilistas sempre estamos olhando o passado para ressignificar o presente", diz.

    Para Zé Macedo, dono da agência One2One e responsável por gerir a carreira de tops como Alessandra Ambrósio, Carol Trentini e Lea T., esse movimento na moda é reflexo do crescimento da expectativa de vida das pessoas.

    "Antes dizia-se que a vida acabava nos 50 anos. Na moda, era ainda pior. Uma modelo terminava a carreira com 30, no máximo", diz Macedo.

    "Modelos, atrizes e músicos estão buscando outros meios para tornar sua carreira perene", afirma. "Nosso trabalho, hoje, é descobrir habilidades que mantenham essas pessoas no imaginário da cultura pop."

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