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    'Minorias já são provocadas todos os dias', diz líder de associação islâmica

    JULIANA GRAGNANI
    ENVIADA ESPECIAL A ESTOCOLMO

    23/03/2015 03h45

    "A Suécia sempre foi o perfeito exemplo de sociedade tolerante", diz o cientista politico Mohammed Kharraki, 30, representante da Associação Islâmica da Suécia. "Mas isso é um mito", completa, em frente à principal mesquita de Estocolmo, que foi pichada com suásticas em 2014.

    Kharraki é sueco, filho de marroquinos que emigraram para o país nos anos 1980. A Associação Islâmica estima que haja cerca de 450 mil muçulmanos na Suécia, ou 5% da população do país, que é de 9,5 milhões de pessoas.

    Em 2007, quando jornais publicaram o desenho do artista sueco Lars Vilks, em que retratava Maomé no corpo de um cão, Kharraki era presidente da associação de jovens islâmicos do país. Foi convidado para debater com Vilks em um programa de TV.

    "Não comprava na época, e ainda não compro, a versão dele de que defende a liberdade de expressão", diz. "Estou cansado. Por que testar essa liberdade sempre com os muçulmanos?", questiona.

    "Quando ele diz querer provocar minorias, ele não entende que as minorias já são provocadas todos os dias", diz, citando a dificuldade enfrentada por muçulmanos para conseguir empregos, o isolamento da comunidade em subúrbios e o preconceito contra mulheres de lenços.

    O professor de religião comparada Mattias Gardell, da Universidade de Uppsala, lembra que a provocação feita por Vilks é antiga: segundo ele, cristãos retratam Maomé como um cachorro desde o século 8.

    Para Gardell, os desenhos fazem parte de uma estratégia elaborada pelo artista para atingir a fama.

    "Seu trabalho nunca havia chamado a atenção antes", diz. "Ele identificou um ponto controverso, evidenciado antes com a publicação de charges satíricas na Dinamarca, e elaborou o plano perfeito, em que os muçulmanos ficariam enfurecidos, o Ocidente iria adorá-lo e ele teria sua segurança garantida pela polícia."

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