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    'Não quis fazer show do Holocausto', diz autora israelense que virá para Flip

    RAQUEL COZER
    COLUNISTA DA FOLHA

    30/03/2015 02h10

    O anúncio da lista de "cem livros notáveis" de 2014 segundo o "The New York Times" deixou furiosa a romancista e ensaísta israelense-americana Ayelet Waldman, 50.

    Depois de publicar aquele que considera seu melhor romance, "Amor e Memória" (Casa da Palavra), ela ficou estupefata ao ser ignorada pelo mesmo jornal que, meses antes, elogiara a obra.

    "Não estou lidando bem por ter falhado em entrar na lista. 'Amor e Memória' é um romance f*", disparou no Twitter, em dezembro."Por que um livro com resenha medíocre é 'notável' quando um com boa resenha não é?"

    O rompante rendeu alguma dor de cabeça ("Vocês passam a vida sendo sarcásticos e cruéis?", perguntou aos detratores, dois dias depois) e uma desconfiança.

    "Se dissessem que o Twitter foi criado por inimigos para me humilhar, não me surpreenderia", diz a autora, por telefone, à Folha. "É o tipo de coisa que só deveria expressar para minha mãe, para ela me mandar ficar quieta."

    Confirmada para a Flip, em Paraty (RJ), entre os dias 1º e 5 de julho, Waldman terá a chance de convencer o leitor brasileiro da notabilidade de seu mais recente romance -o primeiro lançado no Brasil, no final de 2014, sem alarde.

    Narrada em três tempos, de 1913 a 2013, a trama trata da locomotiva conhecida como trem de ouro húngaro. Lotada de bens de judeus pilhados por nazistas, foi descoberta por soldados dos EUA em 1945.

    Um oficial, encarregado de guardar o trem -vítima de furtos pelos militares que deveriam zelar por seu conteúdo- acaba conservando consigo uma joia. Décadas depois, pede à neta para localizar o dono e devolver a peça.

    Amor e Memória
    Aylete Waldman
    livro
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    Waldman, radicada nos EUA desde a infância, diz que essa história lateral dos crimes nazistas foi a forma que encontrou para tratar pela primeira vez na ficção de um tema que lhe é caro, mas sem "fazer show do Holocausto".

    "É tão arriscado usar uma tragédia com fins criativos", avalia. "Só decidi ao ver que poderia jogar luz sobre um episódio menos conhecido."

    Intensa nos posicionamentos -seja em tuítes contra a ocupação israelense na Palestina, seja em ensaios feministas-, ela diz tentar não deixar a ideologia "invadir a ficção para além do que a trama permite", embora veja na ficção americana um receio de se assumir politicamente.

    "Na Europa e na América do Sul há uma abordagem mais sofisticada, a noção de que o mundo é político. Você não precisa fingir que não é político na ficção. Escrever sem tomar posição é em si uma posição", argumenta.

    Mas é na não ficção que se sente mais à vontade para opinar. Mulher de Michael Chabon, vencedor do Pulitzer por "As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay" (o autor, diz ela, não virá ao país), Waldman causou furor em 2005 por um ensaio no qual dizia que amava mais o marido do que os quatro filhos do casal.

    Não foi fácil explicar a ideia de que mães confundem amor maternal com o romântico ("Chegaram a mandar o departamento de serviços sociais na minha casa!"), mas o ensaio revolucionou a carreira da escritora -culminando, em 2009, com a coletânea "Bad Mother" (mãe ruim).

    Waldman diz acreditar ter ajudado mulheres a amenizar "loucuras" da maternidade, como a tendência de seguir cada passo dos filhos. Curiosamente, ela mesma não escapou do que cobrou de outras -que relaxassem em relação à maternidade. Tirando "Amor e Memória", o tema domina toda a sua ficção.

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