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    Crítica: Personagens rasos atenuam força da trama de 'Ponte Aérea'

    ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
    CRÍTICO DA FOLHA

    01/04/2015 02h14

    Os opostos se atraem, afirma uma lei da física que –segundo alguns teimosos– pode ser aplicada aos relacionamentos afetivos.

    É o que acontece em "Ponte Aérea", segundo longa da carioca Julia Rezende, que tenta refletir sobre o funcionamento das relações amorosas nos dias de hoje, especialmente entre jovens adultos.

    Segundo a diretora, a história foi inspirada pelo ensaio "Amor Líquido", do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que analisa a fragilidade dos laços humanos nos nossos tempos.

    Divulgação
    Cena do filme 'Ponte Aérea'
    Cena do filme 'Ponte Aérea'

    Bauman sustenta que o amor sucumbiu à insegurança dos amantes, cercados de medos, e as pessoas têm enormes dificuldades em assumir compromissos.

    O casal de opostos é formado Bruno (Caio Blat), um grafiteiro carioca, e Amanda (Letícia Colin), uma publicitária paulistana. Bruno vive com pouco dinheiro, quase como um estudante, sem grandes responsabilidades. Ambiciosa e bem-sucedida, Amanda se entrega de corpo e alma à voragem do trabalho.

    Os dois se conhecem quando o voo da ponte aérea em que estão acaba sendo desviado a Belo Horizonte por causa da chuva. Logo engatam um namoro. Como não vivem na mesma cidade, os dois estão sempre viajando.

    RIO X SÃO PAULO

    As diferenças entre ambos são enfatizadas pelos contrastes entre Rio e São Paulo, que se organizam em oposições do tipo natureza e asfalto, diversão e trabalho, e assim por diante. A narrativa insiste o tempo todo nessa oposição um tanto estereotipada, como se a personalidade de cada um deles fosse determinada por certas características de suas respectivas cidades. Essa falta de profundidade dos personagens acaba por enfraquecê-los e, por tabela, atenua a força do relato.

    A história de amor sofre com a distância geográfica, mas o principal problema é a distância de sintonia, a dificuldade que ambos têm de respeitar as diferenças, a perplexidade diante dos medos que os paralisam.

    Apesar de estarem perto dos 30 anos, Bruno e Amanda, cada um a seu modo, são uns adolescentes crescidinhos cujo umbigo é o centro de tudo, incapazes de enxergar além dos limites de seu individualismo.

    Se a reflexão que o filme pretende fazer não tem muito fôlego por causa dessas fraquezas, a atuação dos atores possui mais relevância.

    Caio Blat compõe seu personagem com segurança, enquanto Letícia Colin tem ótima presença em cena, encarnando uma Amanda convincente. Outro ponto positivo é o final aberto, inconclusivo, que permite ao espectador tirar suas próprias conclusões.

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