• Ilustrada

    Monday, 20-May-2024 19:08:34 -03

    Crítica

    Filme póstumo abre janela para cinema de Eduardo Coutinho

    TETÉ RIBEIRO
    EDITORA DA "SERAFINA"

    07/04/2015 02h03

    O cinema de Eduardo Coutinho tem características marcantes: seus documentários quase não têm contexto, e, de certa maneira, não têm começo nem fim.

    Em sequências de entrevistas feitas no mesmo lugar em um curto espaço de tempo, revelam histórias humanas, mas, mais do que isso, a impossibilidade de se chegar a uma verdade absoluta.

    Se há um tema central na trajetória desse nosso grande documentarista é a enorme distância entre a história vivida e a história contada.

    Divulgação
    Cena do filme 'Últimas Conversas', de Eduardo Coutinho
    Cena do filme 'Últimas Conversas', de Eduardo Coutinho

    Morto em fevereiro do ano passado em circunstâncias trágicas (esfaqueado pelo filho, que sofre de esquizofrenia), o cineasta, então com 80 anos, deixou inéditos um filme dele e um filme sobre ele, feitos simultaneamente.

    O sobre ele está em cartaz, "Eduardo Coutinho - 7 de Outubro", e é uma entrevista com o diretor, feita pelo também documentarista Carlos Nader, no meio das filmagens do que seria esse longa póstumo, "Últimas Conversas", cujo lançamento marca os 20 anos do festival É Tudo Verdade.

    Finalizado por outro grande documentarista, João Moreira Salles, "Conversas" tem mais de um filme dentro dele. O projeto de Coutinho era fazer o que ele sempre fazia: um corte no tempo e no espaço, ou uma "prisão voluntária", como ele define, e entrevistas curtas com um público pré-selecionado.

    O trunfo é o entrevistador: curioso e sem agenda pré-determinada, chegava "vazio", como ele define na entrevista a Carlos Nader. Não manipula as respostas, não finge interesse, deixa que os silêncios aconteçam. Sua câmera era um confessionário.

    E seu foco, desta vez, eram jovens cariocas de famílias de baixa renda, na reta final para decidir o que vai ser do resto da vida, com suas histórias familiares, escolares e de relacionamento.

    Mas ele não estava feliz com o resultado, tinha se arrependido de falar com adolescentes, "que já chegam armados, maquiados, castrados pela necessidade da autorização dos pais". Queria mesmo era falar com crianças, "que só dizem o que pensam".

    A mão de outro cineasta dá a esse, que corria o risco de ser um filme menor, a chance de se tornar fundamental na trajetória de Eduardo Coutinho. Ao contrário dos outros, esse documentário tem começo, contexto e fim. Sem revelar nenhuma surpresa, basta dizer que o artista estava presente. E que, neste caso, vale ouro.

    ÚLTIMAS CONVERSAS
    DIREÇÃO Eduardo Coutinho
    PRODUÇÃO Brasil, 2015
    QUANDO Em SP, no É Tudo Verdade: sex (10), às 21h, e dom. (19), às 17h, no Cine Livraria Cultura, r. Padre João Manuel, 100, tel. (11) 3285-3696; No Rio, no É Tudo Verdade: sáb. (11), às 19h, no Espaço Itaú Botafogo, praia de Botafogo, 316, tel. (21) 2559-8750; dom. (12), às 20h, no Instituto Moreira Salles, r. Marquês de São Vicente, 476, tel. (21) 3284-7400
    QUANTO grátis (senhas distribuídas uma hora antes)
    CLASSIFICAÇÃO livre
    AVALIAÇÃO muito bom

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024