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    Biografia de John Hughes explica o sucesso de filmes clássicos dos 1980

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    12/04/2015 02h00

    "Mas o John Hughes é conhecido no Brasil?", pergunta o crítico, biógrafo e incrédulo Kirk Honeycutt.

    O nome do diretor e roteirista pode não reverberar tanto no imaginário dos jovens dos anos 1980 e 1990 que acompanharam as altas aventuras com galeras do barulho aprontando muita confusão.

    É essa injustiça que a biografia "John Hughes: A Life in Film", escrita por Honeycutt, pretende reparar.

    Lançado em março nos EUA (sem tradução prevista no Brasil), o livro analisa o legado e a fórmula de sucesso do cineasta que aprontou todas em filmes como "Clube dos Cinco", "Esqueceram de Mim", "Curtindo a Vida Adoidado", "Férias Frustradas" e "Mulher Nota Mil".

    No Brasil, a "Sessão da Tarde", da Globo, foi a principal responsável por amplificar o impacto desses filmes com incontáveis reprises (a Folha procurou sem sucesso a TV Globo para saber quantas vezes essas obras foram exibidas).

    "São filmes antigos, mas ainda muito queridos. Achei que valeria a pena olhar para a obra de novo", diz o autor. Crítico da revista "Hollywood Reporter", Honeycutt conta que a filmografia de Hughes era esnobada pelos colegas.

    "Ele não fazia filmes para adultos. Não importava quais fossem as resenhas na época, ninguém estava interessado em John Hughes."

    Ninguém a não ser o próprio público, que fez do cineasta, morto em 2009, aos 59 anos, uma mina de ouro para estúdios de Hollywood.

    Em 1986, por exemplo, Hughes emplacou duas das dez maiores bilheterias dos EUA com "Curtindo a Vida Adoidado" e "A Garota de RosaShocking". "Esqueceram de Mim", com roteiro seu, foi a comédia mais vista de 1990.

    TÚNEL DO TEMPO

    A biografia retrata Hughes como um cara comum, parecido com os personagens que criou. Desajustado, como o nerd tímido Brian (Anthony Michael Hall) de "Clube dos Cinco". E que precisou conviver com um diretor tirano nos tempos do colégio, como Ferris Bueller em "Curtindo a Vida Adoidado".

    Hughes, aliás, fez questão de que o ator Jeffrey Jones, que vive o diretor casca-grossa de Bueller, conhecesse pessoalmente o coordenador da escola onde estudou.

    "Os adultos sempre pareceram como outra espécie para mim. Eu nunca esqueci o que é ser criança e olhar para os adultos", disse Hughes, em fala reproduzida no livro.

    A inspiração para os roteiros vinha dos inseparáveis cadernos que mantinha, onde registrava dos diálogos que ouvia na rua às broncas que recebeu dos pais.

    E, mesmo criando filmes cheios de loucas trapalhadas, os tipos de suas histórias sempre foram as pessoas comuns, vivendo vidas comuns e habitando subúrbios comuns.

    Ninguém precisa roubar uma Ferrari e sair aprontando todas por aí como Ferris Bueller, mas quem nunca quis matar aula por um dia e inventar uma desculpa esfarrapada?

    Para o biógrafo, está aí o segredo do sucesso dos filmes Hughes. Antes do cinema, ele foi diretor de criação de uma agência de publicidade e colaborou com a revista de humor "National Lampoon".

    Mais do que entender como seduzir a audiência, diz o biógrafo, a experiência na propaganda o ensinou a saber vender o próprio trabalho. Para ele, Hughes, no fim, "era apenas um bom escritor" que sabia como convencer as pessoas de suas ideias.

    "Os problemas que os adolescentes enfrentavam em 1985 não são diferentes. A pressão, o abuso, o bullying. As atitudes podem mudar, as roupas podem mudar. Mas o cara virgem sempre vai ser zoado, os temas continuam os mesmos", diz Honeycutt.

    JOHN HUGHES - A LIFE IN FILM
    AUTOR Kirk Honeycutt
    EDITORA Race Point Publishing
    QUANTO US$ 20 (na Amazon), 224 págs.

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