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    CRÍTICA

    Segredo de John Hughes foi não idealizar seus personagens

    ANDRÉ BARCINSKI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    12/04/2015 02h00

    John Hughes (1950-2009) é mais lembrado como diretor e roteirista de comédias juvenis, um gênero geralmente associado a filmes que não se levam muito a sério e se limitam a divertir.

    Como explicar, então, o apelo longevo desses filmes? Por que tanta gente ainda ama personagens como Ferris Bueller, de "Curtindo a Vida Adoidado", ou Andie, de "A Garota de Rosa-Shocking"?

    Talvez o segredo de John Hughes, o que realmente o aproximou do público, foi o fato de ele nunca ter idealizado os personagens adolescentes de seus filmes.

    Divulgação
    John Hughes no set de "A Garota de Rosa-Shocking"
    John Hughes no set de "A Garota de Rosa-Shocking"

    Quando lembramos os grandes ídolos "teen" dos 80, vêm à memória criaturas lindas e perfeitas como Demi Moore, Tom Cruise, Phoebe Cates, Matt Dillon, Patrick Swayze e River Phoenix.

    Mas os "heróis" de Hughes eram outros: Matthew Broderick, Molly Ringwald, Anthony Michael Hall, Ally Sheedy, Judd Nelson e Andrew McCarthy. Rostos que marcaram os anos 80 não por serem extraordinariamente bonitos ou fotogênicos, mas por parecerem normais. Matt Dillon parecia um astro do cinema. Já Matthew Broderick parecia o seu vizinho.

    O público acreditava em Broderick matando aula para farrear em "Curtindo a Vida Adoidado", assim como acreditava na tristeza da ruivinha Molly Ringwald em "Gatinhas e Gatões", quando a coitada percebeu que a família esquecera seu aniversário de 16 anos. As histórias dos filmes eram as mais simples possíveis, mas carregavam um drama que tinha o peso do mundo para qualquer adolescente.

    John Hughes conhecia esse adolescente, tendo sido um deles –inseguro, autodepreciativo, tímido e sonhador. Passara a juventude nos subúrbios de classe média norte-americanos e se dizia um solitário. Não era dos alunos mais populares na escola e tinha dificuldade para conseguir namoradas.

    Quando iniciou as carreiras de roteirista e cineasta, levou para seus filmes esse mundo "teen" realista e com um pé na melancolia. E todos nós, que também tínhamos problemas com os pais, crises na escola e medo de chamar as garotas para dançar, embarcamos com ele.

    ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor do livro "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)

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