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    Análise

    'O Tambor' é filme perturbador, mas diferente da obra literária

    SÉRGIO RIZZO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    14/04/2015 02h35

    Pense no prestígio e na repercussão de filmes alemães recentes que reconstituem períodos históricos importantes, como "A Queda! - As Últimas Horas de Hitler" (2004) e "A Vida dos Outros" (2006).

    No seu tempo, "O Tambor" (1979) foi muito além. Bastaria lembrar a rara dobradinha que conquistou: Palma de Ouro em Cannes (dividida com "Apocalypse Now") e Oscar de filme estrangeiro.

    Tradução é traição. Ainda que Grass tenha participado da roteirização, assinando os diálogos, o "Tambor" da tela não é o dele.

    Sven Hoppe/Efe
    O escritor alemão Günter Grass que morreu nesta segunda (13) em Lübeck, na Alemanha, aos 87 anos
    O escritor alemão Günter Grass que morreu nesta segunda (13) em Lübeck, na Alemanha, aos 87 anos

    O diretor e roteirista Volker Schlöndorff e os corroteiristas Jean-Claude Carrière e Franz Seitz escavaram as mais de 700 páginas do romance em busca de personagens, episódios-chave e motivos recorrentes.

    O resultado alterna humor negro com aspereza e também delicadeza. Ao completar três anos, Oskar ganha um tambor e se recusa a crescer. "Um gnomo para sempre", diz. A pele que habita será por muitos anos a de uma criança, testemunhando a ascensão do nazismo e a Segunda Guerra Mundial.

    O efeito perturbador do filme está associado a essa perspectiva infantil, mas engana-se quem imaginar, por causa do que há de literário na adaptação, que o texto vigoroso de Grass caminhe por aí.

    São mais de 500 páginas de prosa extraordinária que cobrem, nos livros 1 e 2, os três dias nos quais Oskar conta a um enfermeiro a história do seu crescimento.

    O livro 3, com mais 200 e tantas páginas, avança até os 30 anos de idade do personagem para se reencontrar com a cena inicial. Um prodígio de construção narrativa, centrada em uma fábula extraordinária que cutuca a ferida nazista com vara curta.

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