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    Galeano terá livros reeditados em países hispânicos e no Brasil

    DENISE MOTA
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MONTEVIDÉU

    14/04/2015 02h00

    A esquerda contemporânea perdeu um dos seus maiores representantes. O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano morreu na manhã desta segunda (13), em Montevidéu, aos 74 anos.

    O autor de "As Veias Abertas da América Latina" (1971), referência para diversas gerações e livro que o transformou no pensador uruguaio mais influente em todo o mundo, estava internado em razão de complicações causadas por um câncer de pulmão diagnosticado em 2007.

    Em "As Veias", Galeano faz uma análise histórica da América Latina, em que relaciona os contrastes e paradoxos da região com sua condição de território que é alvo, em sua leitura, da exploração, em um primeiro momento, das metrópoles europeias e, depois, também dos EUA.

    A obra, traduzida para mais de 20 idiomas e que vendeu cerca de 5 milhões de exemplares —conforme o próprio autor comentava com seu editor brasileiro, Ivan Pinheiro Machado, da L&PM—, fomenta debates apaixonados nas redes sociais desde que, no ano passado, durante um encontro literário em Brasília, Galeano disse que seu corpo "já não aguentaria" a leitura de seu próprio livro.

    Também afirmou que não estava adequadamente preparado, nos anos 70, para escrever "As Veias Abertas...".

    As afirmações —somadas a um artigo no jornal "The New York Times" com a interpretação de que o uruguaio renegava, com aquelas declarações, o seu trabalho mais importante— dividem até hoje opiniões sobre se Galeano recusou de fato sua própria obra e também sobre a vigência de seu pensamento.

    PELO MUNDO

    A morte de Galeano provocou reações de esquerdistas de todo o mundo, desde Dilma Rousseff e Lula no Brasil a Evo Morales na Bolívia, passando pelo premiê grego, Alexis Tsipras, e a escritora e a ativista canadense Naomi Klein.

    No Uruguai, o ex-presidente José "Pepe" Mujica afirmou que Galeano foi um "escolhido, que nos últimos 30 ou 40 anos nos dignificou na América Latina".

    "Com certeza, a verdadeira arte é forma e é conteúdo, e Galeano tinha isso." Quando Mujica assumiu, em 2010, Galeano disse que se tratava do presidente "que mais se parecia" com os uruguaios.

    O presidente recém-empossado do país, Tabaré Vázquez, que assumiu em 1º de março, convocou todo seu ministério a comparecer ao velório, nesta terça-feira (14), a partir das 14h, no Palácio Legislativo de Montevidéu.

    A Casa Rosada, da Argentina, considerou o escritor uruguaio um "pensador chave da Pátria Grande".

    Uma nova edição do livro "Mujeres", será lançada em maio, nos países de língua hispânica. Trata-se de uma coletânea de textos onde Galeano aborda a trajetória de mulheres anônimas e ilustres, de Rosa Luxemburgo a Marilyn Monroe, passando pelas mães de santo da Bahia (leia fragmento abaixo).

    A capa de "Mujeres" traz figuras femininas retratadas pelo artesanato de Olinda, escolhidas por Galeano.

    INÉDITOS

    Outro livro, com textos inéditos, também está pronto, mas sem data de publicação, de acordo com a editora ibero-americana Siglo XXI.

    No Brasil, há 14 obras do autor em catálogo pela L&PM, segundo a qual já foram vendidos mais de 300 mil exemplares em 24 anos. A editora informou que estuda a reedição de vários outros títulos.

    Torcedor do clube Nacional, de Montevidéu, Galeano era apaixonado por futebol e também escreveu livros e artigos sobre o esporte.

    Costumava afirmar que, "como todos os uruguaios", nasceu "gritando gol", e se definia como "um perna de pau sem perdão".

    Sobre "Futebol ao Sol e à Sombra", dizia: "Tradicionalmente, a direita suspeita, ou acredita, que o futebol é a prova de que o povo pensa com os pés. E a esquerda suspeita, ou acredita, que, por culpa do futebol, o povo não pensa. Escrevi esse livro contra isso".

    O escritor deixa a mulher, Helena Villagra, e três filhos.

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