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    Crítica

    Argentino ilumina a história da atriz tragada por um filme

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    15/04/2015 02h12

    Um único trabalho no cinema consumiu a existência de uma atriz e sua interpretação única contribuiu para incluir um filme no panteão da grande arte. Os destinos cruzados da francesa Renée Falconetti (1892-1946) e do filme "A Paixão de Joana d'Arc" (1928) são tema de "Chamas de Nitrato".

    O título do documentário do argentino Mirko Stopar faz referência ao nitrato de celuloide, substrato da película cinematográfica até os anos 1950. Por ser altamente inflamável, o nitrato acarretou a extinção de um número incalculável de filmes.

    No documentário, a referência simboliza o quase desaparecimento posterior de Falconetti, o destino quase fatal do filme "A Paixão de Joana d'Arc" e a trajetória errática de seu autor, o dinamarquês Carl Theodor Dreyer (1889-1968), após o trabalho.

    Divulgação
    Renée falconetti em 'Chamas de Nitrato"
    Renée falconetti em 'Chamas de Nitrato"

    Uma longa entrevista com Hélène Falconetti, filha da atriz, percorre os meandros de uma história pessoal oculta. As origens, a ascensão aos palcos parisienses, o relacionamento com um milionário são detalhados em minúcias, assim como o longo ocaso, falências, exílios e doenças que apagaram o rastro de Renée.

    Se na tela Falconetti converteu-se em ícone da emoção e do sofrimento, nos intensos closes com que Dreyer filmou o martírio da santa, o que aconteceu com ela depois do filme confunde ainda mais a relação entre intérprete e personagem.

    Como se não bastasse isso para "Chamas de Nitrato" conquistar a curiosidade cinéfila, o documentário ainda rastreia o processo criativo de Dreyer na obra, decifrando lendas e agregando fatos que esclarecem sua forma.

    Apesar de mais tarde ter entrado para a lista dos filmes-faróis, aqueles cuja forma inovadora introduz outros modos de ver, foi quase por acaso que "A Paixão de Joana d'Arc" ainda existe.

    O filme sofreu cortes exigidos pela igreja no lançamento, em seguida os negativos se perderam num incêndio, uma versão muito adulterada substituiu o rigoroso original concebido por Dreyer e só a descoberta tardia de uma cópia no porão de um hospital psiquiátrico trouxe de volta o assombro do encontro de Falconetti e Dreyer.

    Em resumo, uma daquelas histórias que a gente acha que só existem no cinema.

    CHAMAS DE NITRATO
    DIREÇÃO Mirko Stopar
    PRODUÇÃO Noruega/Argentina, 2014, 10 anos
    QUANDO hoje (15), às 15h, no Oi Futuro Ipanema, no Rio
    AVALIAÇÃO ótimo

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