Stephen King gosta de conversar com leitores, e não é de hoje. Em introduções, notas e prefácios, escritos no estilo verborrágico e informal que o caracteriza, mostra o que há por trás da história, fala de si, de suas motivações.

"Agarre meu braço. Iremos a vários lugares escuros, mas acho que sei o caminho", escreveu, em 1984, na coletânea "Tripulação de Esqueletos". King já era famoso, mas parecia não conseguir fugir de explicar sua produção.

Livro de Stephen King com conselhos para escritores iniciantes sai no Brasil

"Não fazemos isso por dinheiro, é porque evita que nos sintamos mal", diz sobre seu tipo de escrita, adorado por multidões (vendeu mais de 350 milhões de cópias), mas desprezado por críticos admiradores da "alta literatura".

Harold Bloom, por exemplo, escreveu que um prêmio da National Book Foundation concedido a King em 2003 era "mais um degrau abaixo no chocante processo de estupidificar nossa vida cultural".

King não baixa a cabeça, como demonstra "Sobre a Escrita", versão turbinada daqueles prefácios e notas.

Trata-se de sua "tentativa de mostrar como surge um escritor": fala da infância, trata dos anos de alcoolismo e comenta a arquitetura da boa ficção. E dispara contra os detratores da literatura pop.

"Boa parte da crítica literária serve apenas para reforçar um sistema de castas tão antigo quanto o esnobismo cultural que o alimenta", diz. "Até Dickens [...] enfrentou ataques da crítica. Críticos e acadêmicos sempre desconfiaram do sucesso popular".

Não que o sucesso seja medida de qualidade. King despreza a autoajuda, alfineta autores como Danielle Steel e Jacqueline Susann e cita "As Pontes de Madison" como exemplo de prosa ruim.

Para ser bom, diz, há que ser verdadeiro. E "ler muito e escrever muito". Independentemente do que se pense de Stephen King e sua obra, eis um bom conselho.

SOBRE A ESCRITA
AUTOR Stephen King
TRADUÇÃO Michel Teixeira
EDITORA Suma de Letras
QUANTO R$ 39,90 (256 págs.)
AVALIAÇÃO bom