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    Inspirada no caso Celso Daniel, peça usa política para tratar de violência

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    24/04/2015 02h25

    Segundo espetáculo de uma trilogia do grupo paulistano Tablado de Arruar, "Abnegação 2 - O Começo do Fim" parte de um fato recente da política brasileira para falar da violência e do medo.

    Enquanto "Abnegação 1" (2014) era inspirado pela atual conjuntura do PT –e mostrava, de forma crítica, as relações dentro de um partido de esquerda ligado a altas esferas do poder–, no novo espetáculo, que estreia nesta sexta-feira (24) em São Paulo, a história se passa nos anos de 2001 e 2002.

    Nela, um personagem se revolta com a política dentro de um partido e, por estar em desacordo com o restante do grupo, é perseguido.

    A trama faz clara referência ao assassinato, em 2002, de Celso Daniel (PT), então prefeito de Santo André (Grande São Paulo): no espetáculo, uma gravação comenta o caso real, ainda não solucionado. Segundo a polícia, Daniel foi sequestrado por uma quadrilha que o confundiu com outra pessoa. Mas a família sustenta que o crime tem relação com esquema de arrecadação de propina para o PT.

    Annelize Tozetto/Divulgação
    Os atores Ligia Oliveira, Vinicius Meloni, Alexandra Tavares e Vitor Vieira (no chão), do grupo Tablado de Arruar na peça "Abnegação II - O Começo do Fim"
    Ligia Oliveira, Vinicius Meloni, Alexandra Tavares e Vitor Vieira em "Abnegação II - O Começo do Fim"

    E, ao contrário da primeira montagem, em que as frases não eram terminadas e as intenções ficavam subentendidas, em "Abnegação 2" tudo é explícito e violento: seja na agressividade do que é dito, seja na fúria das ações.

    "Ficamos pensando qual a melhor forma de encarar o medo", diz Alexandre Dal Farra, dramaturgo e codiretor da peça. "E quisemos encará-lo de frente e mostrar uma sensação de desamparo."

    A montagem intercala a história de Jorge com cenas em que o tema é apenas a violência. Nestas últimas, os atores permanecem estáticos, e a crueza está nas palavras.

    Em outros momentos, os fatos são narrados, sem que os atores precisem agir para contar a história. "Percebemos como o texto às vezes tinha mais força que a ação", diz Clayton Mariano, que divide a direção com Dal Farra.

    A terceira peça, prevista para 2016, deve tratar da formação do PT, nos anos 1980, um momento, comenta Mariano, em que o sentimento de esperança e de utopia era bastante forte.

    Nascido em 2001, o Tablado de Arruar começou sua trajetória com montagens de rua. Aos poucos, o texto ganhou mais força nos trabalhos do coletivo, em especial pela figura de Dal Farra, que se firmou no papel de dramaturgo da companhia em 2005.

    De sua autoria, a peça "Mateus, 10" recebeu os prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e Shell-SP de melhor texto em 2012.

    ABNEGAÇÃO 2 - O COMEÇO DO FIM
    QUANDO qui. a sáb., às 20h; até 13/6
    ONDE Oficina Cultural Oswald de Andrade, r. Três Rios, 363, tel. (11) 3222-2662
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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