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    Renato Borghi rouba a cena em montagem de 'A Gaivota' de Nelson Baskerville

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    24/04/2015 02h20

    É a grande peça moderna sobre o teatro, um chamariz irresistível para atores e diretores, no Brasil como em toda parte. Espelha expressamente a trama de "Hamlet", de Shakespeare.

    "A Gaivota" celebrizou o dramaturgo russo Anton Tchékhov por uma montagem de 1898 no Teatro de Arte de Moscou, com Stanislávski como diretor e protagonista, no papel de um escritor famoso, e Vsevolod Meyerhold fazendo seu nêmesis, um jovem autor suicida. Fechando o quadrado amoroso de personagens, duas atrizes: uma diva e uma aspirante bela e sem talento.

    Cada um dos quatro papéis tem sua passagem de brilho, num carrossel de muitas palavras e pouca ação, ao qual não faltam traços de comédia. Mas talvez por reverência, mais dos atores que da encenação, esta "1Gaivota" montada por Nelson Baskerville repete uma conhecida frustração com o núcleo central, em versões brasileiras.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Atores Julia Ianina e Rafael Primot no espetáculo 'A Gaivota'
    Atores Julia Ianina e Rafael Primot no espetáculo 'A Gaivota'

    Pascoal da Conceição está irreconhecível, sem sinal de humor ou do fascínio que justificaria o escritor Trigórin seduzir ambas as atrizes. É possivelmente o principal personagem de "A Gaivota", mas está sufocado por rancor intermitente, como se perdido na busca da interpretação.

    Julia Ianina também não havia se encontrado como Nina, na estreia da montagem, uma semana atrás. Ela é a gaivota abatida do título, responde pela fala fundamental da peça, em que se reconhece uma má atriz, mas a exposição de sua fragilidade para tanto, como sua nudez, era ainda superficial.

    Noemi Marinho se defende num humor quase popularesco, que até cabe, mas que também apaga a crueldade da velha atriz Arkádina, mãe de Kóstia, o jovem dramaturgo, o Hamlet da história. Este, como retratado por Rafael Primot, é inexpressivo ao ponto de se tornar um personagem pequeno, paralelo.

    papéis menores

    Bem melhor se saem os intérpretes dos papéis propriamente menores, Élcio Nogueira, Erika Puga e Thais Medeiros. E sobretudo Renato Borghi, a quem Baskerville, não à toa, dedica o espetáculo, lembrando que ele já fez "Tio Vânia", "As Três Irmãs" e "O Jardim das Cerejeiras", as outras três grandes de Tchékhov.

    Restrito na maior parte da apresentação a uma cadeira de rodas, refletindo de maneira pungente o subtítulo do espetáculo, "É Impossível Viver sem Teatro", Borghi atravessa com presteza os extremos de drama existencial e a comédia farsesca do dramaturgo –e rouba a cena.

    Baskerville, ao que parece, se voltou mais a cenografia e figurinos, trilha e movimentação em cena. Acumula imagens e impressões contemporâneas e procura aproximar do público as questões da peça, mas as interpretações irregulares, dispersas por diferentes caminhos, dificultam seu intento.

    GAIVOTA - É IMPOSSÍVEL VIVER SEM TEATRO
    QUANDO: SEX. E SÁB, 21H; DOM., 18H; ATÉ 24/5
    ONDE: SESC CONSOLAÇÃO - TEATRO ANCHIETA - R. DR. VILA NOVA, 245 - TEL. (11) 3234-3000
    QUANTO: R$ 12 A R$ 40

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