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    Contra adensamento, cidades escolherão entre condomínios e espaços públicos

    ANDREA VIALLI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    24/04/2015 02h00

    As projeções das Nações Unidas sobre os rumos da população mundial em 2050 não deixam dúvidas: os humanos serão ainda mais numerosos e, em sua maioria, viverão em cidades superpopulosas sob ameaça de escassez de recursos naturais.

    Para responder às demandas das próximas décadas, na opinião do urbanista Anderson Kazuo Nakano, professor da FGV, a população e o poder público irão articular-se em torno de duas tendências opostas, já em curso: o isolamento e a busca por convívio.

    A primeira, do autoconfinamento e da vida intramuros, expressa-se na proliferação de condomínios fechados, nas torres de escritórios e na hegemonia do carro. Esse modelo, inspirado em cidades norte-americanas, começou a se disseminar no Brasil na década de 1970 e ganhou força nos últimos anos. "Ele reflete a segregação dos espaços baseada na vida 'entre iguais' e requer controle do acesso e sistemas de vigilância", diz ele.

    A segunda tendência é a da valorização da convivência da diversidade. São reflexos dessa vertente a apropriação de espaços públicos para eventos, o uso de bicicletas, a proliferação dos coletivos culturais e as ecovilas urbanas.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Segundo Nakano, os dois movimentos devem continuar existindo nas próximas décadas. "Mas arrisco-me a dizer que a tendência de ocupação dos espaços públicos deve se fortalecer por vontade das pessoas, que não querem mais viver confinadas em espaços privatizados."

    Fora do Brasil, esse movimento vem sendo chamado de "new urbanism" (novo urbanismo). Ele influencia a criação de zonas mistas, onde comércio e residências se misturam, as calçadas são amplas e há locais de uso coletivo, favorecendo a convivência entre os moradores.

    O caminho para um espaço urbano que facilite a interação, no entanto, não será rápido, na visão de Rosa Alegria, especialista em prospectiva estratégica (área que estuda tendências do futuro).

    Na visão dela, a transição para um modelo mais colaborativo de cidades só será possível depois que o atual padrão competitivo e centrado no indivíduo entrar em colapso. "Esse modelo é a base do sistema econômico em que vivemos hoje e está refletido na organização das grandes cidades", afirma.

    O arquiteto e urbanista Carlos Leite, autor de "Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes", diz que o fato de o mundo caminhar para cidades mais adensadas não significa necessariamente um futuro de metrópoles mais segregadas. "As pessoas buscarão mais interação, pois é da concentração de características socioculturais diversas que emergem as oportunidades de inovação, o microempreendedorismo, a economia criativa."

    A "cidade para pessoas" é uma forte tendência, segundo Leite: "Ela se revela em espaços de convivência, zonas de uso misto, wi-fi, transporte público de qualidade e parcerias público-privadas para que esses investimentos se realizem".

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