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    Para resgatar a convivência, famílias americanas vivem em 'cohousings'

    GIULIANA VALLONE
    DE NOVA YORK

    24/04/2015 02h00

    "A casa de um homem é seu castelo, mas as mudanças econômicas e demográficas transformaram nossos castelos em ilhas." A frase é do arquiteto americano Charles Durrett, que, ao lado da mulher, Kathryn McCamant, levou aos EUA o conceito de "cohousing" ("coabitação", em português).

    Nos anos 1980, recém-casados e frustrados com a perspectiva de uma vida isolada e atribulada, foram à Dinamarca pesquisar mais sobre estilos de vivência em comunidade.

    Voltaram decididos a implantar os conceitos aprendidos e, em 1988, lançaram o livro "Cohousing: a Contemporary Approach to Housing Ourselves" ("Cohousing: uma Abordagem Contemporânea para a Habitação"), considerado a "bíblia" do modelo nos EUA.

    A ideia é misturar a vida privada com a convivência comunitária. Para isso, as comunidades são construídas com pequenas casas para cada família e uma residência maior, em que os moradores compartilham quase diariamente espaços comuns, como uma cozinha maior e uma lavanderia.

    O modelo requer a participação dos futuros residentes em todas as etapas da construção, um jeito de uni-los em torno de um objetivo comum.

    "Estamos vivendo um estilo de vida cada vez mais privado e, com isso, perdemos o que antes vinha naturalmente, a cooperação entre as famílias", diz McCamant. "O cohousing é uma tentativa de resgatar o senso de comunidade de um jeito moderno."

    A convivência próxima com os vizinhos, parecida com a de sua infância em Brasília, foi o que fez a brasileira Mariana Almeida, 45, procurar o cohousing nos EUA -onde vive há mais 30 anos.

    Ela mora em uma comunidade em Berkeley, na Califórnia, desde 2004, com o marido e a filha, de 8 anos. Ao todo, são 32 pessoas em 15 casas. "A parte mais interessante é o apoio mútuo. Tenho ajuda com a minha filha, todos fazem refeições juntos, ajudamos os mais velhos."

    Mas, se viver em família já é complicado, é possível dar certo com desconhecidos? "Não é perfeito, é claro. Há reuniões em que tudo funciona e outras em que você sente que está batendo a cabeça contra uma parede", diz Kathryn McCamant.

    Mariana admite que chegar a um consenso para fazer coisas simples, como consertar um equipamento ou construir uma cerca, pode ser desgastante. Mas não pensa em deixar esse estilo de vida.

    De acordo com a Associação de Cohousing dos Estados Unidos (Coho/US, na sigla em inglês), há hoje 140 comunidades do tipo no país.

    Depois de uma parada na construção de condomínios, com a recessão econômica de 2008, a expectativa é de que os números voltem a crescer.

    Esse aumento, segundo a diretora-executiva da Coho/US, Alice Alexander, 57, será impulsionado pela geração baby boom (nascidos após a Segunda Guerra Mundial), que buscam formas de envelhecer melhor.

    Mas, para o professor da Universidade da Flórida Stephen Golant, autor de "Aging in the Right Place" ("Envelhecendo no Lugar Certo", sem tradução para o português), a probabilidade de que o modelo se popularize é baixa.

    "Grande parte da população não tem a paciência ou o tempo necessário para se engajar na construção de uma comunidade."

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