• Ilustrada

    Sunday, 05-May-2024 03:40:49 -03

    'Vingadores' infringe acordo e ocupa mais salas de cinema que o permitido

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    30/04/2015 02h33

    Quatro meses após um acordo ter limitado o número de salas de cinema que podem ser ocupadas pelo mesmo filme, ao menos oito complexos em São Paulo infringiram o pactuado entre a Ancine (Agência Nacional do Cinema) e representantes do setor.

    O blockbuster "Vingadores: Era de Ultron", que na quinta (23) estreou em 42% das 2.800 salas do Brasil, ocupou mais do que o permitido em seis unidades da rede Cinépolis e duas da Kinoplex em sua primeira semana em cartaz.

    Nesta quinta (30), dia em que muda o circuito, o filme continua extrapolando os limites nessas mesmas salas, exceto nas do Kinoplex Itaim, no qual passou de três para duas das seis telas do local.

    O acordo foi firmado em dezembro. Na época, um único filme, "Jogos Vorazes: A Esperança: Parte 1", havia abocanhado 46% das salas brasileiras, número recorde.

    O debate ganhou força após uma série de reportagens da Folha. Distribuidores e exibidores ligados à produção independente se queixavam da ocupação massiva das telas pelo mesmo título. O presidente da Ancine, Manoel Rangel, chamou de "predatório" esse tipo de lançamento, por restringir a diversidade de filmes em exibição.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O acordo, válido para 2015, definiu que um único título não poderá ocupar mais do que duas em complexos de até seis salas de cinema. Nos espaços multiplex com mais de seis salas, o teto é de 35%.

    "Vingadores" extrapola os limites nas unidades Alphaville, JK Iguatemi, Parque Barueri, Largo 13, São Bernardo e Metrô Itaquera da rede Cinépolis (veja quadro acima). No último complexo, por exemplo, o filme ocupa todas as sessões de cinco das oito salas (o dobro do permitido).

    Nas sete salas do Kinoplex Vila Olímpia, a obra estreou ocupando todas as sessões de três delas e dividindo sessões em outras duas. Na semana seguinte, ocupou todas as sessões de duas delas e dividiu sessões em outras duas. O limite é de duas salas e meia.

    "Isso demonstra ausência de interesse na diversidade de programação", diz André Sturm, exibidor e distribuidor ligado ao circuito autoral que participou das reuniões que resultaram no acordo. "Há uma política de ocupação de mercado, não é acaso: isso inviabiliza concorrência", diz.

    "A Ancine infelizmente ainda não tem instrumento eficaz para coibir", afirma Sturm.

    O termo, assinado por 23 exibidores —incluindo as redes Cinépolis e Kinoplex—, não tem força de lei. Ou seja, não há punição pelo descumprimento, mas é exigido como contrapartida o aumento da exibição de filmes nacionais.

    Procurada, a Ancine informa que ainda não é possível fazer um balanço sobre o acordo porque o ano não acabou. Segundo a assessoria, a mensuração e cumprimento da contrapartida e a aferição dos números de crescimento do setor serão considerados pelo órgão ao avaliar as medidas.

    A Ancine frisa que, neste primeiro quadrimestre, a receita bruta de bilheteria nos cinemas foi 28% superior à do mesmo período em 2014.

    Segundo a agência, as exibidoras que extrapolaram os limites serão notificadas e terrão de cumprir a chamada cota suplementar. O órgão informa que poderá adotar "novas medidas" caso reincidam, mas não detalha quais seriam.

    OUTRO LADO

    A reportagem entrou em contato com a Cinépolis, mas foi informada que os responsáveis pela programação estão fora do país e não conseguiriam comentar o assunto.

    Procurada desde o começo da tarde de terça (28), a Kinoplex não se pronunciou até o encerramento desta edição.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024