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    CRÍTICA

    Tema social aproxima filme de Cingapura de nosso cotidiano

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    30/04/2015 02h33

    A conquista da Caméra d'Or por Anthony Chen, 31, no Festival de Cannes de 2013 não é um daqueles méritos que se apagam com a memória das competições.

    O prêmio, concedido a um trabalho de estreante exibido numa das seleções do festival francês, conferiu merecida distinção ao singular trabalho do diretor cingapuriano em "Quando Meus Pais Não Estão em Casa".

    Como sugere o título, o filme narra, em parte, as aventuras de um garoto na ausência da família. Mesmo que o endiabrado Jialer lembre muito o Antoine Doinel de "Os Incompreendidos", de Truffaut, e outras crianças do cinema, o longa de Chen não fica só na evocação da infância, tendência de primeiros longas de jovens diretores.

    Divulgação
    Cena do filme "Quando Meus Pais Não Estão em Casa"
    Cena do filme "Quando Meus Pais Não Estão em Casa"

    Num primeiro momento assistimos aos distúrbios domésticos provocados pela insubordinação do pequeno Jiale, mas logo entra em cena uma personagem que descentraliza a trama e abre perspectivas além do drama infantil.

    A chegada de Terry, empregada de origem filipina, explicita outros desarranjos domésticos e expõe temas como a exploração social e os efeitos da crise econômica.

    Ambas questões apagam a distância exótica que poderia ter um filme vindo de Cingapura e torna seu relato bem familiar ao nosso cotidiano.

    O parentesco com o elogiado "Casa Grande" é evidente e estimula uma comparação do modo como dois jovens diretores solucionam problemas comuns de representar e transmitir mensagens.

    A escolha de "Quando Meus Pais Não Estão em Casa" concentra-se menos no discurso sociológico e mais nos afetos.

    Uma primeira face do filme aponta a distância dos pais, a ausência deles e o poder repressivo que ambos impõem no trato com o garoto.

    A empregada, no entanto, não consegue reproduzir a hierarquia entre adulto e criança nem assume de imediato o papel de mãe substituta. Sua relação com o menino começa com disputas e abusos, um padrão que transpõe a exploração para a escala de um miniditador.

    À medida em que o trato entre Terry e Jiale deixa de ser só de subordinação, o filme capta outros efeitos da convivência física entre patrões e empregados nos olhares da mãe, expressão de repelência à intrusa.

    Outro tema relevante do filme é a crise financeira. As demissões todos os dias no escritório da mãe e a situação de desemprego do pai ampliam o drama para além da zona doméstica e complementam o registro de desintegração de uma ordem imposta.

    Se tudo no filme tem uma aparência micro, banal, o efeito que ele provoca, ao contrário, é amplo e de longa duração. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

    QUANDO MEUS PAIS NÃO ESTÃO EM CASA
    DIREÇÃO: ANTHONY CHEN
    ELENCO: KOH JIA LER, ANGELI BAYANI E CHEN TIAN WEN
    PRODUÇÃO: CINGAPURA, 2013, 12 ANOS
    QUANDO: ESTREIA QUI. (30)

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