• Ilustrada

    Sunday, 05-May-2024 06:52:23 -03

    Genialidade de Orson Welles está em cartaz em São Paulo

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    07/05/2015 02h30

    Filmes de Orson Welles estão em sessões espalhadas por salas de São Paulo, na semana que marca seu centenário de nascimento. Mas a carreira dele no cinema, notadamente o fenômeno "Cidadão Kane", às vezes ofusca a pluralidade de seu talento.

    Na verdade, Welles, nascido a 6 de maio de 1915 em Kenosha, cidadezinha próxima a Chicago, é caso único de alguém que produziu obras inovadoras em três mídias antes de completar 26 anos.

    Aos 21, criou uma companhia de teatro. Aos 22, dirigiu na Broadway "Caesar", adaptação de "Júlio César" em que realçava o jogo político. Foi aclamada como divisor de águas nas montagens de Shakespeare.

    Um ano depois, em 1938, escreveu, dirigiu e narrou a versão radiofônica de "Guerra dos Mundos" que propagaria pânico entre os ouvintes.

    Ao adaptar o livro de H.G. Welss sobre uma invasão de alienígenas, Welles adotou o tom de um locutor de noticiário desesperado, levando a audiência a pensar que se tratava de um evento real.

    Com a popularidade mundial conquistada com o rebuliço, não faltou quem quisesse investir em seus projetos.

    KANE

    Veio então "Cidadão Kane", em 1941, um filme para o qual o adjetivo "revolucionário" nunca será exagerado. Começa já pela ambição de Welles, que escreveu, dirigiu e produziu o filme. Ele reservou para si o papel principal, como o Charles Foster Kane, pobre que se torna um milionário.

    Na época, alguém acumular tantas tarefas numa produção era incomum. Incontestáveis são os arrojos técnicos do filme, que explora enquadramentos inusitados na fotografia em preto e branco.

    Além de o filme apresentar truques sonoros que Welles trouxe do rádio, a edição foge da narração linear –começa com o protagonista morto. O recurso, ao mesmo tempo, encantava e intrigava o público.

    É difícil encontrar quem não goste de "Cidadão Kane". Um deles foi o magnata do jornalismo William Randolph Hearst, que teria inspirado o roteiro. Welles negou, mas ganhou o ódio mortal de Hearst.

    Os problemas com Hollywood apareceram em seguida. Adorado pela crítica, foi retumbante fracasso de bilheteria. No Oscar, indicado em nove categorias, ganhou apenas prêmio de roteiro original.

    Welles dirigiria mais uma dúzia de longas, mas o desejo de ter controle absoluto das produções transformou cada empreitada em brigas, atrasos e bilheterias desastrosas.

    Em 1943, veio ao Brasil filmar o Carnaval no Rio e aventuras de jangadeiros no Ceará. Mas a morte de um jangadeiro, depois que Welles pagara a ele para entrar no mar mesmo com mau tempo, atrapalhou o projeto. Inacabado, o documentário "É Tudo Verdade" seria lançado em 1993.

    Existem outros picos de genialidade em sua filmografia, como "Soberba" (1942) e adaptações de Shakespeare "Macbeth" (1948) e "Othello" (1952).

    Mas nada chegou perto de "Cidadão Kane". A cada novo filme, a crítica infernizava Welles com a comparação. E as bilheterias não ajudavam. A exceção, "A Dama de Shangai" (1947), fez sucesso pela presença ruiva e deslumbrante de Rita Hayworth, que foi casada com Welles.

    Nas décadas seguintes, ele ganhou direito alugando sua figura e sua voz grave a documentários e programas de TV. Morreu de infarto em 1985.

    INÉDITO

    O último longa dirigido por ela era, até agora, "Verdades e Mentiras", de 1974. Mas ainda este ano pode ser lançado "The Other Side of the Wind", história sobre um diretor de cinema americano que se torna mendigo na Europa.

    Welles filmou trechos entre 1970 e 1976, com o também diretor John Huston no papel principal, sem concluir a montagem. O filme está sendo finalizado por uma equipe do American Film Institute.

    Popperfoto/Getty Images
    ORG XMIT: 511801_1.tif Cinema: o cineasta e roteirista Orson Welles. *** BAIXADA ARQUIVAR -----T,V, and Films, A picture showing US film director, actor, producer, screenwriter and broadcaster Orson Welles working on his typewriter (Photo by Popperfoto/Getty Images)
    O cineasta e roteirista Orson Welles.

    No Sesc Ipiranga
    Exibição de filmes, às terças, às 19h30: "Cidadão Kane" (12/5); "Macbeth" (19/5); "O Processo" (26/5). Grátis.
    ONDE R. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000.

    Na Casa Guilherme de Almeida
    Filmes seguidos de bate-papo aos sábados, às 15h30, caso de "É Tudo Verdade" (9/5). No dia 30, o Teatro da Peste faz performance baseada em "A Guerra dos Mundos". Grátis.
    ONDE R. Cardoso de Almeida, 1943, tel. (11) 3673-1883.

    No Museu Afro Brasil
    Expõe 25 fotos da passagem de Welles pelo Brasil em 1942. De terça a domingo, das 10h às 17h. Ingressos a R$ 6 (quinta e sábado grátis)
    ONDE Av. Pedro Álvares Cabral, s/n; tel. (11) 3320-8900.

    Na Biblioteca Roberto Santos
    Traz sessões de filmes sempre aos domingos, incluindo "O Processo" (31/5, às 16h) e "Verdades e Mentiras" (31/5, às 18h). Grátis.
    ONDE R. Cisplatina, 505, tel. (11) 2273-2390.

    Na Biblioteca Viriato Corrêa
    Exibe filmes dirigidos por Welles e produções nas quais ele atuou, como "Moby Dick" (8/5, às 15h) e "Falstaff" (22/5, às 15h). Grátis.
    ONDE R. Sena Madureira, 298, tel. (11) 5573-4017.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024