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    Vida de santa que contestou Igreja Católica inspira peça

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    08/05/2015 02h40

    Contrariando uma sociedade que não via com bons olhos a participação de mulheres no mundo das letras, a freira espanhola Teresa de Cepeda y Ahumada (1515-82), conhecida como Teresa d'Ávila, não só proferia sem pudor seu gosto por livros, como também escrevia poemas e registrou sua biografia em "Livro da Vida".

    A obra é a base da peça "A Língua em Pedaços", escrita pelo espanhol Juan Mayorga há quatro anos e montada agora em São Paulo, com direção de Elias Andreato.

    No espetáculo, Teresa –interpretada por Ana Cecília Costa– recebe a visita de um inquisidor, papel de Marco Antônio Pâmio, no mosteiro São José, primeiro convento das Carmelitas Descalças, ordem fundada pela freira.

    O eclesiástico, de início, pergunta sobre as motivações de Teresa, sua crença e sua visão sobre a religião. Mas usa suas respostas –diretas e sinceras– para denunciar a suposta heresia da freira.

    Laercio Luz/Divulgação
    Os atores Ana Cecília Costa e Marco Antônio Pâmio em cena da peça "A Língua em Pedaços", texto do espanhol Juan Mayorga com direção de Elias Andreato. CRÉDITO: Laercio Luz/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Ana Cecília Costa e Marco Antônio Pâmia em "A Língua Em Pedaços"

    O embate é fictício, mas o espetáculo contém trechos inteiros de "Livro da Vida", explica Ana Cecília. Também representa um jogo de poderes entre a Igreja Católica, comandada por homens, e Teresa, mulher com atuação política, que questionava doutrinas e que criou seus próprios conventos –nos quais pregava pela simplicidade. Posteriormente, suas ações causaram reformas na instituição.

    "Teresa d'Ávila foi quase uma precursora do feminismo", afirma Pâmio. Ao mesmo tempo, a freira dizia ter visões de Deus e de anjos, e sua relação com a religião era muito física: descrevia seu êxtase como manifestações no corpo e afirmava conseguir levitar por meio da oração. Por esses relatos, foi acusada de bruxaria –e, ironicamente, canonizada 40 anos depois da sua morte.

    Para Ana Cecília, a freira "era uma mística de alta meditação, mas também extremamente pé no chão". Além disso, em seus poemas, Teresa chamava Deus de seu amado e "falava de entranhas, de gozo, e tudo de um modo muito intenso". "Um escândalo para a época", comenta Andreato.

    A LÍNGUA EM PEDAÇOS
    QUANDO sáb., às 20h (a partir de 6/6 haverá sessões às 17h30), dom., às 19h, seg., às 20h; até 29/6
    ONDE CCBB, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651/3652
    QUANTO R$ 10
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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