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    Com Carol Castro e Beatriz Segall, musical conta delírios de Fellini

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    14/05/2015 02h00

    Foi de um bloqueio criativo que Federico Fellini (1920-93) fez nascer um dos seus trabalhos mais aclamados: "8½", vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1964.

    A solução do cineasta italiano foi buscar assunto na própria falta de ideia.

    Como um alter ego do diretor, o protagonista, Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), retira-se em um spa para superar a crise criativa com seu novo filme. Enquanto tenta fugir de produtores, para quem finge já ter um trabalho concebido, mergulha em memórias e fantasias.

    A história autobiográfica virou musical na Broadway em 1982, sob o nome de "Nine" –"nove", um complemento ao título de "8½", que representava o número de filmes feitos por Fellini até então. Também marcou a indústria de musicais por levar soluções simples e de baixos custos para um mercado habituado a grandiosidades.

    O espetáculo chega agora em versão brasileira, com direção de Charles Möeller e Claudio Botelho. "Nine - Um Musical Felliniano" estreia em São Paulo no dia 23 de maio.

    No delírio deste Guido do teatro (interpretado aqui pelo italiano Nicola Lama), só há espaço para personagens femininas: a mulher (Carol Castro), a amante (Malu Rodrigues), a musa (Mayana Moura), a mãe (Beatriz Segall), a produtora (Totia Meireles), a prostituta (Myra Ruiz).

    "Essas mulheres são como sereias o chamando para o mar", comenta Möeller. "Esse é um musical todo passado na cabeça do personagem", complementa Botelho. "Você nunca sabe se ele está sonhando ou se é verdade."

    O ambiente de delírio é recriado no palco por meio de lâmpadas pendendo do teto, porões e escadarias, que lembram os trabalhos do artista gráfico holandês M. C. Escher (1898-1977), explica Möeller.

    CARICATO

    Na adaptação, Botelho (que fez as versões para o português) e Möeller tiraram alguns trejeitos e sotaques italianos que marcavam o original da Broadway. "Para o americano, isso é mais engraçado. Para o nosso público, a coisa do italiano caricato não faz muito sentido", diz Botelho.

    Também foram incluídas duas músicas, "Cinema Italiano" e "Take It All", criadas para a versão cinematográfica do musical, dirigida por Rob Marshall em 2009.

    No elenco, os encenadores se cercaram de atores com quem já trabalham há tempos, como Lama e Malu Rodrigues. E de nomes menos habituados a musicais, porém mais conhecidos do público, caso da veterana Beatriz Segall, 88, e de Carol Castro, 31, que faz seu primeiro musical –para tanto, tem aulas de canto há cerca de seis meses, algumas virtuais (por Skype), quando a agenda não permite.

    NINE - UM MUSICAL FELLINIANO
    QUANDO qui. a sáb., às 21h, dom., às 19h. De 23/5 a 9/8
    ONDE Teatro Porto Seguro, al. Barão de Piracicaba, 740, tel. (11) 3223-2090
    QUANTO R$ 80 a R$ 200
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

    *

    FELLINIANAS

    • A atriz Sandra Milo, que interpretou a personagem Carla, amante de Guido em '8½', também teve um caso com Fellini
    • Em 'Nine', o protagonista Guido prepara um filme sobre o aventureiro italiano Casanova (1725-1798), conhecido por conquistar mulheres. O personagem foi tema de um longa de Fellini, de 1976. Para críticos, representa outro alter ego do cineasta, o seu lado 'mulherengo incorrigível'
    • Muito dos delírios e das imagens oníricas criadas por Fellini em '8½' foram baseados em leituras da obra do psicólogo Carl Jung. A partir dos estudos, o cineasta formulou os arquétipos representados no filme: suas relações com mulheres, as marcas da infância e a influência do catolicismo

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