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    Em Cannes, diretor de 'Gomorra' mergulha na fantasia em fábula gótica

    RODRIGO SALEM
    ENVIADO ESPECIAL A CANNES (FRANÇA)

    14/05/2015 12h45

    O diretor italiano Matteo Garrone sofreu uma perseguição violenta quando lançou, em 2008, seu "Gomorra", drama ultrarrealista sobre as famílias da máfia napolitana.

    Há dois anos, apostou na fábula "Reality - A Grande Ilusão", sobre os perigos da fama nos tempos modernos. Em seu novo longa, "Il Racconto dei Racconti" ("A História das Histórias"), Garrone decidiu mergulhar de vez na fantasia e foi bem recebido no primeiro dia de competição no Festival de Cannes.

    "Il Racconto dei Racconti" é um conto de fadas gótico inspirado no escritos do poeta napolitano Giambattista Basile, que cunhou as primeiras versões de Rapunzel e Gata Borralheira, no início do século 17. E é o primeiro trabalho de Garrone em língua inglesa, mesmo com atores mexicanos (Salma Hayek ) e franceses (Vincent Cassel) dividindo a tela com americanos (John C. Reilly) e ingleses (Toby Jones).

    Divulgação
    Cena de "Il Racconto dei Racconti", ficção científica com elementos de horror baseado no trabalho do poeta Giambattista Basile
    Cena de "Il Racconto dei Racconti", ficção científica com elementos de horror baseado no trabalho do poeta Giambattista Basile

    O cineasta italiano mostra desenvoltura no gênero que muitas vezes pode ser traiçoeiro por causa da necessidade de efeitos especiais, maquiagem pesada e figurinos extravagantes.

    Não é difícil de notar as influências fellinianas já na abertura, quando duas moças seminuas são agraciadas sexualmente pelo rei de Cassel. Mas a direção de arte Dimitri Capuan e a fotografia do gênio Peter Suschitzky, preferido de Tim Burton e David Cronenberg, deixam o filme mais próximo de um "A Viagem do Capitão Tornado" (1990) que de um "Branca de Neve e o Caçador" (2012).

    O filme é dividido em três linhas narrativas. A primeira é sobre uma rainha (Hayek) que, de tanto desejar um filho, manda o marido (Reilly) arrancar o coração de um monstro marinho -uma aventura que acaba com a morte do nobre.

    Ela finalmente engravida ao comer o coração da fera, mas ela não sabe que a cozinheira virgem que preparou o prato também é fertilizada pela mágica. Os gêmeos de mães diferentes crescem em castas diferentes, mas têm muito em comum.

    O segundo conto traz o rei de Cassel apaixonando-se pela voz de uma mulher, sem saber que ela usa magia para manter-se jovem. O terceiro e mais engraçado é protagonizado pelo rei de Toby Jones obcecado por uma pulga e entrega a filha humana (Bebe Cave, ótima) para um ogro das cavernas.

    Neste segmento, Garrone mostra como atualizar os temas dos contos de fadas de Basile para versar sobre feminismo e diretos das mulheres. Ele é preciso e esconde bem a panfletagem debaixo de muito sangue e ironia.

    Veja os filmes da mostra competitiva em Cannes

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