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    Denise Fraga atualiza peça de Brecht e vive cientista Galileu Galilei

    IARA BIDERMAN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    15/05/2015 02h40

    Há quase quatro anos, a atriz Denise Fraga teve "uma ideia maluca". Ser o Galileu Galilei da peça de Bertolt Brecht (1898-1956) sobre o cientista italiano perseguido pela Inquisição por dizer que o Sol é o centro do Universo.

    A suposta maluquice estreia nesta sexta (15), em SP.

    O clássico do dramaturgo alemão trata de questões como intolerância, fundamentalismos e disputas político-religiosas. Lembra algo atual? Lembra. E a peça, dirigida por Cibele Forjaz e com trilha sonora de Théo Werneck, tem até um panelaço contra Galileu.

    Denise achava que o personagem não era para ela. A atriz e colunista da Folha afirma que tinha medo do ridículo, mas, também, "vontade de expressar as verdades que esse texto diz". Levou então a ideia para Cibele, que não a achou nada maluca.

    "Estou acostumada com loucuras", diz a diretora. O que nem ela nem a atriz querem se acostumar é com um mundo que perdeu a fronteira da ética, tema tratado na peça –ameaçado pela Inquisição, Galileu abjurou sua famosa descoberta de que a Terra gira ao redor do Sol.

    Mas também porque de bobo o personagem (real) não tinha nada. Ele passou os últimos anos no exílio escrevendo escondido sua obra mais importante e deixou o seu recado para a humanidade.

    "No texto de Brecht, Galileu diz que escreveu usando 'os restos de luz das noites claras', e é isso que a peça questiona ao público: o que você vai fazer nos restos de luz das noites claras, o que você vai aprontar no pedacinho que lhe couber?", pergunta Denise.

    Os questionamentos e dramas da peça giram também em volta do humor, e o herói de Brecht é muito divertido, quase malandro –por sinal, é desse texto a frase "Infeliz o país que precisa de heróis".

    Denise crê no humor para transmitir ideias. "Quando você faz comédia, fica com um ouvido bom para a risada do público. Tem uma que diz 'pior que é', o cara se reconhece e se questiona por meio do teatro. 'Galileu' terá a risada 'pior que é', se Deus quiser."

    Além disso, para a atriz, Brecht é um autor popular. "Ele permite que a gente fale com quem não está nem aí."

    TRAPINHOS

    Para "Galileu Galilei", Denise e a diretora "juntaram os trapinhos". Parte do elenco é formado por atores que trabalharam com ela em "A Alma Boa de Setsuan", em 2008 –espetáculo que levou mais de 200 mil pessoas ao teatro com outro texto do dramaturgo alemão. A outra parte é constituída por profissionais da Cia. Livre, grupo dirigido por Cibele.

    A criação foi na sede da companhia, onde objetos do grupo foram transformados em material cênico. Tiras de jornal e cabos de vassoura viraram alegorias de escola de samba. Galileu rendeu um bom pedaço de samba-enredo e um panelaço coreográfico.

    ARENA

    Dos ensaios na pequena arena da Cia. Livre, o elenco foi para o palco italiano (o tradicional, em que a toda plateia assiste à montagem de frente) do Tuca. "Há quase 20 anos não venho para um palco italiano e um teatro tão grande", conta Cibele.

    Mas ela levou um pouco de sua arena para o Tuca, com um tablado redondo que avança para a plateia. "Adorei isso, a arena projeta a gente, parece que você está voando no meio do público", conta Denise. Para Cibele, "na arena tudo gira, tudo se move, como defendia Galileu."

    GALILEU GALILEI
    QUANDO sex. e sáb, às 21h; dom., às 19. Até 30/8
    ONDE Tuca, r. Monte Alegre, 1.024, tel. (11) 3670-8455
    QUANTO R$ 50 a R$ 70
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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