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    ANÁLISE

    BB King, rei do blues, tratava a guitarra como mulher

    CARLOS CALADO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    16/05/2015 02h00

    Desde 2006, quando B.B. King realizou uma turnê mundial de despedida, seus inúmeros fãs pelo mundo já vinham se preparando para a inevitável notícia.

    Agora é definitivo: o carismático rei do blues saiu mesmo de cena.

    "Minhas pernas não estão boas, minhas costas também não, e a cabeça já não é a mesma", ele lamentou durante o show de despedida no Bourbon Street, em São Paulo, explicando, bem-humorado, porque só conseguia cantar e tocar sentado. Mesmo assim, seguiu fazendo shows e alegrando os fãs.

    É difícil acreditar que, depois de passar décadas fazendo cerca de 300 apresentações por ano, King ainda continuasse nos palcos por dinheiro. Raros músicos demonstravam tanto prazer em exercer seu ofício como ele. Seu prazer em entreter as plateias era mais que evidente.

    Nascido em uma humilde cabana, no delta do rio Mississippi, King desautorizou os especialistas que apontam uma mútua influência entre os blueseiros dessa mítica região do sul dos EUA.

    Seus maiores ídolos, os músicos Blind Lemon Jefferson e Lonnie Johnson, não eram do Mississippi.

    Outro músico que o influenciou muito foi o cantor e guitarrista texano T-Bone Walker, conhecido por seus blues alegres e dançantes.

    "Meu maior débito musical é com ele. Foi quem me indicou o caminho. Seu som cortava como espada", declarou King ao escritor David Ritz, seu biógrafo.

    LUCILLE

    As guitarras de King, todas batizadas de Lucille, também soavam cortantes. Nos shows, a cada nota do instrumento, especialmente as mais agudas, seu rosto mudava de expressão, como se a música tomasse conta de seu corpo, possuindo-o.

    "Com a exceção de sexo de verdade, com uma mulher de verdade, nada me traz tanta paz de espírito quanto Lucille", revelou King, em sua autobiografia.

    "Gosto de ver minha guitarra como uma mulher."

    Em 2006, quando perguntei a ele como gostaria de ser lembrado no futuro, o humilde rei do blues demonstrou mais uma vez sua costumeira simplicidade. "Honestamente, gostaria que pensassem em mim como um amigo, alguém de quem as pessoas gostam. Só isso."

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