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    CRÍTICA

    Longa 'Metanóia' decepciona: é pouco profundo no debate das drogas

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    17/05/2015 02h30

    A cracolândia, alvo constante de operações policiais controversas, é também lugar de debate de políticas públicas. Agentes de saúde, psicólogos, assistentes sociais de várias esferas governamentais convivem com ONGs, grupos religiosos e de tratamento aos usuários de drogas.

    Grosso modo, há duas linhas de enfrentar a questão. De um lado, os que pregam a obrigatoriedade de internação e abstinência, muitas vezes ligados a ações espirituais. De outro, os que defendem políticas de redução de danos, como no projeto De Braços Abertos, da prefeitura paulistana, que propõe reinserção social sem isolamento.

    "Metanóia", filme de Miguel Nagle, é uma peça de propaganda dos que se enquadram no primeiro grupo. O drama conta a história de um motoboy que envereda pelo crack e consegue se desvencilhar do vício quando adere a uma visão religiosa.

    O longa dá ênfase à dedicação da mãe para a superação do filho. De forma lateral, trata de circunstâncias sociais, como a falta de emprego para moradores da periferia.

    Com um corte bem místico, coloca nas opções individuais o peso do desenrolar dos fatos. O global Caio Blat faz o papel de um playboy entediado que leva o personagem principal para o mau caminho.

    O problema é que tudo parece artificial e caricato no filme: diálogos simplistas, personagens sem densidade, cenários assépticos. Filmado em parte na cracolândia, o longa não expõe o lugar de forma crua: a polícia não aparece de fato –está estacionada ao longe.

    Apesar de passar um tempo se drogando e vivendo jogado nas ruas, o protagonista, vivido por Caíque Oliveira, parece estar sempre bem-ajambrado, rosado, saudável. A cozinha, lugar da mãe, é branquinha e impecável.

    O bolo de chocolate trazido por uma mãe surge na cracolândia como recém-saído da padaria –com aquela tampa de plástico transparente. O traficante é negro e gordo como nos filmes norte-americanos. O deus que aparece é de pele e olhos claros.

    Narrado em primeira pessoa e com uma estrutura bem previsível, o longa decepciona quem busca mais profundidade na discussão sobre drogas. Toca, de maneira rudimentar, em um tema importante. Mas segue um roteiro sob medida apenas para convertidos.

    METANÓIA
    DIREÇÃO Miguel Nagle
    ELENCO Caíque Oliveira, Caio Blat e Lucas Hornos
    PRODUÇÃO Brasil, 2013, 14 anos
    QUANDO em cartaz
    AVALIAÇÃO ruim

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