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    Sexo na Boca do Lixo durante ditadura é tema da série 'Magnífica 70'

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    17/05/2015 02h30

    "Um amontoado vulgar de cenas de violência, sexo, sadismo, sem falar nas críticas ao regime. Meu voto é pelo veto total à obra." O veredito de um censor durante a ditadura não seria surpreendente se seu autor não fosse ao mesmo tempo um diretor de pornochanchada da Boca do Lixo, a Hollywood brasileira do gênero.

    É essa a premissa de "Magnífica 70", nova produção da HBO, com 13 episódios, dirigida por Claudio Torres e Carolina Jabor, que estreia no dia 24.

    Vicente (Marcos Winter) é um homem reprimido cuja profissão é reprimir. Trabalha no departamento de censura do governo de São Paulo em 1973, cinco anos após o AI-5.

    "Ele é um manso, um cara que foi criado para ser um cordeiro", descreve Winter.

    Mas sua rotina de burocrata muda ao ver na tela a ninfeta Dora do Mar (Simone Spoladore), protagonista de "A Devassa da Estudante", filme que o faz lembrar de um episódio de seu passado. Logo, Vicente inaugura uma vida dupla como censor e diretor de pornochanchada na Boca.

    "O que nos interessou foi contar a história de pessoas criadas numa época repressora entrando em contato com a revolução [sexual] que estava acontecendo no mundo", resume Torres.

    Boca do Lixo foi o apelido da região no centro de São Paulo que concentrou boa parte da produção cinematográfica do Estado entre 1960 e 1980. Foi o berço do gênero que representava de tudo, do suspense à comédia, mas sempre com forte conotação sexual.

    A Boca de "Magnífica" – nome da produtora fictícia em que se passa a história– é um lugar cheio de duplicidade. Vicente é censor, Dora na verdade é Vera, e seu marido machão, o produtor Manolo (Adriano Garib), é brocha.

    A apresentação da série é embalada por "Sangue Latino", canção dos Secos e Molhados: "Jurei Mentiras e sigo sozinho/ Assumo os pecados".

    A mulher de Vicente, Isabel (Maria Luisa Mendonça), filha de um general, é o arquétipo da mulher dos anos 1950 –criada apenas para ter filhos. Mas ela também muda ao longo da temporada, afetada pelo clima efervescente da revolução sexual.

    A Boca fez a carreira de grandes cineastas, como Jean Garrett e José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Contar os bastidores de um lugar tão importante para o cinema brasileiro empolgou os diretores, mas eles dizem que não se trata de uma série histórica.

    "Saímos da série com muito respeito pela Boca do Lixo, mas não temos a pretensão de contar histórias de personagens reais. Isso é muito difícil de fazer no Brasil, onde você precisa da autorização das famílias para tudo", diz Torres. "Contamos histórias de pessoas que foram parar no cinema oriundas de outros lugares, o que era uma realidade. A história da Boca é muito mais incrível do que a série e um dia alguém vai contar."

    Magnífica 70

    MAGNÍFICA 70

    Estreia da série
    QUANDO dom., 24/5, às 21h, na HBO

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