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    Governo avaliou violência, sexo e drogas em cenas do filme 'Chatô'

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    18/05/2015 02h00

    Filme mais aguardado —e polêmico— da história recente do cinema nacional, "Chatô: O Rei do Brasil", de Guilherme Fontes, é uma "cinebiografia sem escrúpulos", repleta de sexo, palavrões, violência, álcool e charutos.

    Isso, de acordo com avaliação do Ministério da Justiça, que recebeu cópia do longa para definir a classificação indicativa e determinou, na última sexta (15), que a obra não é recomendada para menores de 14 anos. A informação foi antecipada pela Folha.

    A análise feita pela pasta encerra uma das maiores discussões do meio cinematográfico: o filme, que começou a ser rodado há 20 anos e nunca foi lançado, de fato existe.

    Luciano Salles
    Cena de "Chatô, O Rei do Brasil" de acordo com descrição do Ministério da Justiça
    Cena de "Chatô, O Rei do Brasil" de acordo com descrição do Ministério da Justiça

    Inspirado na biografia escrita por Fernando Morais, "Chatô" é um longa de 106 minutos. É encenado num tribunal fictício que julga o protagonista, Assis Chateaubriand (1892-1968), figura central da história brasileira: fundador do grupo Diários Associados, atuou também na política, ajudou a criar o Masp e trouxe a televisão para o país.

    Segundo o relatório, há na cinebiografia 15 cenas com uso de drogas lícitas (álcool, tabaco), 12 com alguma violência e oito com teor sexual.

    A descrição das cenas com apontamentos do ministério estão dispostas abaixo.

    O Chateaubriand de Guilherme Fontes, interpretado por Marco Ricca, distribui palavrões aos montes, diz querer "entupir o rabo do Brasil de notícias", toma injeções para "trepar a noite inteira" e chantageia Getúlio Vargas (papel do ator Paulo Betti).

    O diretor iniciou o projeto em 1995. Nesses 20 anos, Fontes captou R$ 8,6 milhões via Lei Rouanet e Lei do Audiovisual, tentou chamar o cineasta Francis Ford Coppola para produzir o filme (o convite foi recusado) e enfrentou reveses na Justiça e no Tribunal de Contas da União.

    Em novembro, o TCU negou recurso do diretor e o condenou a devolver cerca de R$ 66 milhões (valor da captação com a correção monetária) para os cofres públicos e pagar multa de R$ 2,5 milhões, sob a acusação de ter captado recursos incentivados sem ter apresentado o "produto final", isto é, sem ter realizado o longa.

    "O filme não é lenda urbana", diz à reportagem Davi Simões Pires, diretor-adjunto do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação, responsável por determinar a indicação etária. Ele não assistiu ao longa, mas confirma que "Chatô" foi avaliado por técnicos da pasta e que "está finalizado".

    O relatório da classificação foi solicitado pela Folha ao Ministério da Justiça.

    TROPICALISTA

    "Acho que o sentido épico e controverso da vida de Chatô e de seu caráter estão lá", afirma Fontes, que define o seu longa como "tropicalista, modernista e violento".

    As cores foram inspiradas nas telas de Tarsila do Amaral, contou o diretor à Folha. "Às vezes brinco dizendo que ficou até um pouco 'Sessão da Tarde', como se isso fosse possível com este personagem tão forte."

    Questionado sobre referências cinematográficas, lista Coppola, em primeiro lugar, e segue com nomes que vão de Fellini e Zefirelli a Tarantino e Luc Besson. "Gosto de beber em muitas fontes."

    O diretor quer exibir o filme neste semestre, mas não diz que distribuidores estariam dispostos a lançá-lo.

    *

    PROIBIDO PARA MENORES DE 14 ANOS
    Leia descrições e avaliações do Ministério da Justiça para 'Chatô: O Rei do Brasil'

    0h 4min
    "Assis está em uma festa e desmaia. Acorda em um carro, rodeado de pessoas. Ao sair do veículo, diz: 'Merda, o que está acontecendo?' Ele demonstra sinais de confusão."
    Sofrimento da vítima/linguagem chula

    0h 12min
    "Um locutor apresenta Assis e o categoriza como 'o homem que comeu nossas mulheres'. Em seguida, apresenta as mulheres do jornalista e todas as outras mulheres com quem ele 'fornicou durante toda a vida'. Dando continuidade à cena, um padre começa a abençoar as pessoas e joga água benta em uma das câmeras. Ao ver a faísca, Assis diz: 'Merda! Se esse puto desse padre soubesse o quanto custa uma câmera.'"
    Vulgaridade/linguagem chula/linguagem depreciativa

    0h 25min
    "O jornalista Rosenberg e Assis voam em um avião durante uma forte tempestade. O avião ameaça cair por causa do tempo."
    Exposição ao perigo

    Luciano Salles

    0h 27min
    "Assis se encontra com Getúlio Vargas. O homem está consumindo um charuto enquanto faz a entrevista com o jornalista."
    Consumo de drogas lícitas

    0h 33min
    Assis enerva-se com a ideia de que Vivi está com Getúlio Vargas. Rosenberg defende o presidente e Assis diz: 'Me diga uma coisa, meu filho. Se você fosse dono de um jornal e eu tivesse comendo sua mulher, você me chamaria de quê?'"
    Vulgaridade

    Luciano Salles

    0h 33min
    "Após o jornal de Assis divulgar que Getúlio é um ditador corrupto, a polícia invade a redação e destrói o local. Os jornalistas são empurrados pelos cassetetes dos policiais. Assis se esconde enquanto Rosenberg é interrogado pelo detetive. O policial refere-se a Assis como 'safado e canalha'."
    Ato violento/presença de armas com violência/linguagem depreciativa

    0h 44min
    "Assis está preso. Um dos detentos diz (...) 'a 'Hora do Almoço' começou!' Assis diz não estar com fome. O presidiário retruca dizendo (...) a 'Hora do Almoço' é o nome do programa, porra!"
    Linguagem chula

    0h 49min
    "Assis diz para seus redatores: 'Nós vamos entupir o rabo do Brasil de notícias'. Duas mulheres entram na redação do jornal, e todos os homens olham as nádegas das mulheres com desejo sexual."
    Vulgaridade

    1h 4min
    "Assis toma uma injeção em suas nádegas e diz: 'Essa injeção é uma maravilha. Você trepa a noite inteira'."
    Nudez/vulgaridade

    1h 11min
    "Um palhaço anuncia que Rosenberg abriu seu próprio jornal. Assis mostra sua indignação e o chama de filha da puta."
    Agressão verbal/linguagem chula

    Luciano Salles

    1h 19min
    "Assis invade a gravação de uma novela e desfere tapas no protagonista. 'Desgraçado, eu pago seu salário e você ainda come a minha mulher?' Ele se vira para a câmera e diz para sua ex-mulher Lola: 'Você não passa de uma prostituta do mangue, uma mãe desnaturada, ordinária, roliça de uma figa'. Nas cenas seguintes, Assis é visto com uma arma atirando na casa de Lola. Há crianças no local; a mãe da criança se desespera."
    Ato violento/agressão verbal/vulgaridade/presença de armas com violência/angústia/violência agravada por conteúdo inadequado com criança

    1h 22min
    "Assis ameaça o presidente com um facão. Ele afirma que não vai feri-lo e em seguida faz um corte em seu próprio abdômen. O presidente o chama de chantagista filho da puta."
    Ato violento/presença de armas com violência/lesão corporal/ presença de sangue/agressão verbal

    1h 25min
    "Após anunciar as corrupções de Getúlio, os homens do presidente encurralam Rosenberg e atiram contra ele. O jornalista é atingido por um tiro na perna."
    Presença de armas com violência/ato violento/morte intencional atenuada por tentativa

    1h 28min
    "Getúlio Vargas posiciona uma arma em direção ao seu peito. Ele atira contra si e sangue é visto em suas vestes."
    Presença de armas com violência/linguagem de conteúdo sexual/agressão verbal

    Luciano Salles

    1h 40min
    "Vivi retira os equipamentos de Assis na cama do hospital. Ela se posiciona por cima dele, levanta seu vestido e senta no rosto do homem que começa a praticar sexo oral na mulher."
    Relação sexual

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