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    Designer de livros, Irma Boom dará oficina na festa de Paraty

    MARCELO PLIGER
    DE SÃO PAULO

    20/05/2015 02h00

    Irma Boom, 55, é a mais inovadora designer de livros da atualidade. Quarenta de seus projetos fazem parte da coleção do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York.

    Foi a mais jovem vencedora do Guttenberg Prize, espécie de Nobel da impressão de livros (que, no ano passado, premiou Umberto Eco), e recebeu recentemente o prêmio de arte mais importante de sua terra natal, a Holanda.

    Ela estará no Brasil em julho, durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), para liderar, ao lado de Elaine Ramos, diretora de arte da editora Cosac Naify, uma oficina sobre design de livros.

    Irma Boom vai do livro gigante a outro do tamanho de uma caixa de fósforos; veja

    Poderão participar 20 pessoas, que estão sendo selecionadas pela organização entre quase cem inscritos –o resultado deve ser anunciado nesta quarta (20).

    Em suas palestras, Boom não apresenta slides. Usa uma câmera para projetar no telão a imagem de suas mãos manipulando os livros ao vivo enquanto fala.

    Fotos não traduzem bem as texturas, transparências, dobras e surpresas que eles guardam. Ela já usou papel de coar café para imprimir livros e recentemente fez um catálogo sem tinta para a Chanel, usando apenas relevo impresso no papel.

    Falando à Folha por telefone, da casa onde vive e trabalha, em Amsterdã, a holandesa conta que só assume um projeto se estiver envolvida desde o início e se tiver liberdade total de criação. Isso explica por que, em muitos de seus livros, ela atua como espécie de curadora do conteúdo. "As pessoas esperam que eu faça parte do grupo de editores. Aconselho fotógrafos e até mesmo autores", diz.

    A designer usa o termo "commissionaire" (intermediário) no lugar de cliente. "Se eu lhe dissesse que tenho dez clientes, estaria indicando que trabalho para essas pessoas. Eu não trabalho para pessoas. Estou no mesmo nível da pessoa que me 'comissionou' para fazer o livro".

    TRIDIMENSIONAL

    Boom defende o aspecto industrial do livro. Para ela, o livro de artista, de exemplar único, não faz sentido. A função do livro é ser reproduzido em escala industrial.

    Fazer um livro, observa a designer, é fazer um objeto tridimensional que começa no seu conteúdo único. Fazer o design do conteúdo é, portanto, o ponto de partida.

    Boom desenvolve soluções específicas para cada projeto. Ela entende que o livro como objeto ganha importância se mostrar fisicamente o que quer dizer no conteúdo. "Isso o torna mais forte", diz.

    Trata-se um método de trabalho e de uma ambição que começaram em 1984, quando trabalhou para a imprensa oficial holandesa criando anuários de filatelia.

    Boom estudou pintura e crê que sua atitude profissional foi influenciada pela escola de artes, moldando sua necessidade de liberdade criativa e sua atenção a cada circunstância específica. Cada projeto é único e não há limites predeterminados para a invenção.

    Em pouco tempo de conversa, fica claro que a designer encara o livro como uma missão pessoal. Ela tenta redefinir os limites do que é fazer um livro, descobrir quando o objeto ainda é um livro e quando deixa de ser.

    Para ela, está em curso um renascimento do livro.

    Diferentemente do universo digital, onde tudo é mais fluido, no impresso há uma unidade que se transforma em um conteúdo novo sobre o qual o leitor é capaz de refletir com um tempo próprio, observa. Isso tornaria o livro cada vez mais relevante e valioso.

    Ela afirma que essa característica de permanência pode ser aproveitada por outras mídias impressas, desde que as pessoas envolvidas se dediquem a investir nisso e estejam dispostas à reinvenção libertária que ela exige.

    ARQUITETURA

    A característica de permanência da mídia impressa combina com outro tema caro a Boom, a arquitetura. Para a última Bienal de Veneza, ela desenvolveu 17 livros sobre o assunto em parceria com o arquiteto holandês Rem Koolhaas.

    A designer enxerga na arquitetura um modo de trabalho, de chegar a um objetivo concreto, similar ao seu.

    Um exemplo desse processo são as infinitas maquetes de livros que a designer elabora durante o desenvolvimento de um projeto.

    "Com os modelos dos livros em miniatura eu consigo compreender o conteúdo de maneira mais real. Na tela do computador, a leitura é vertical, diferente da leitura tradicionalmente horizontal do livro".

    A monografia de 800 páginas que reúne seus trabalhos, em um formato similar ao de uma caixa de fósforos, faz referência ao tamanho das maquetes que realiza.

    Questionada sobre o que faz um livro ter um bom design, ela responde com um "não sei". Após alguma insistência, dá como exemplo seu livro sobre a tecelã Sheila Hicks. É um dos seus projetos mais celebrados, para o qual desenvolveu um sistema de corte do papel com serras elétricas que cria uma textura similar à dos tecidos da artista.

    "É um livro muito, muito simples. Na sua simplicidade, ele é muito preciso. Quando falo em precisão, eu me refiro ao conteúdo, à execução, à impressão, à dobradura. Cada detalhe otimiza sua qualidade."

    "Esse é o meu manifesto do livro: ser muito preciso. É importante que o design não seja um estilo, mas que se origine do conteúdo."

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