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    Lindo e lento, chinês 'A Assassina' desafia a paciência do espectador em Cannes

    RODRIGO SALEM
    ENVIADO ESPECIAL A CANNES (FRANÇA)

    21/05/2015 14h46

    Afastado dos longas-metragens desde 2007, o chinês Hou Hsiao-Hsien ("A Viagem do Balão Vermelho") volta ao cinema e ao Festival de Cannes para sua oitava disputa de Palma de Ouro.

    Um dos diretores modernos mais respeitados pela crítica cinematográfica, o ganhador do prêmio do júri de 1993 por "Mestre das Marionetes" entregou "Nie Yin Niang" (ou "A Assassina") no fechamento da quarta-feira (20) de competição na Croisette.

    Hsiao-Hsien planejava seu "filme de artes marciais" há 25 anos e o lapidava há pelo menos cinco. Mas tempo não é problema no caso do chinês. É característica e o tom de seu cinema, refletido em longos e plasticamente elaborados planos.

    Divulgação
    Cena de "A Assassina"
    Cena de "A Assassina"

    Então, não espere que "A Assassina" siga o estilo dos Wuxia (filmes chineses de artes marciais) tradicionais, apesar de algumas lutas de espadas (editadas quase amadoramente, disfarçadas como "estilo", chegando a gerar risadas) e combatentes que saltam no ar.

    O longa começa em preto e branco, quando a freira/mestre de artes marciais ordena que sua pupila, Yinniang (Shu Q), mate um homem que cavalga numa floresta. Ela faz sem pestanejar. Mas o mesmo não acontece quando ela invade um feudo para assassinar um homem, mas muda de ideia ao vê-lo com o filho nos braços. Sua mestre a pune com uma missão ainda mais dolorosa: matar Tian Ji'an (Chang Chen), o grande amor da jovem guerreira, hoje um líder no estado de Weibo.

    Se "O Tigre o Dragão" levou a arte aos wuxia, "A Assassina" faz o caminho inverso, nem sempre de forma bem-sucedida –Wong Kar-Wai sentiu as dificuldades do gênero em "O Grande Mestre", mas soube equilibrar ação e poesia gráfica.

    O filme é lindo em suas composições, mas está mais para uma exibição em museu ou galeria do que em cinema. São dezenas de fade-out separando longas sequências que raramente levam o filme para a frente – pode ser um diálogo de dez minutos ou uma formiga passando por uma flor.

    Hsiao-Hsien, habilidoso como poucos cineastas, sempre posiciona a câmera da maneira menos intrusiva possível (atrás de cortinas, no telhado, encostada em árvores), mas desafia a paciência do espectador. Pelo menos, certamente será um sucesso entre diretores cabeça.

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