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    'No palco, vejo fotos na memória', diz cantor Charles Bradley

    RAFAEL GREGORIO
    DE SÃO PAULO

    22/05/2015 02h00

    Quando Charles Bradley fala, de Nova York, onde vive, sobressai a gratidão pelo que a vida tardou, mas não falhou em trazer: "Dou tudo de mim sempre porque esperei essa chance por 50 anos".

    No palco, doação é o forte desse americano de 66 anos. Cada sílaba, gesto, gota de suor e rasgo na voz torna mais literal o termo "soul music".

    Não seria incomum vê-lo chorar no Sesc Pompeia no fim de semana –a segunda visita, após show elogiado na Virada Cultural em 2012. "No palco, vejo fotos na memória. Minha mãe, meu irmão", diz, com a voz trêmula.

    Nascido na Flórida, Bradley foi criado pela avó desde bebê após ser deixado pela mãe, que voltou para levá-lo a NY quando tinha 8 anos.

    O esboço de família foi abortado pela miséria. Aos 14, vivia na rua, dormia no metrô e fugia da polícia. "Fui abusado de todas as formas", diz.

    Adulto, aprendeu a ser cozinheiro e se mudou para Maine, no nordeste do país. Lá viveu até 1977, quando decidiu pegar carona à Califórnia, onde alternaria subempregos e exibições amadoras.

    DUPLO

    Em 1997, Bradley voltou a Nova York. Anos difíceis de novo: entre outras agruras, quase morreu ao tomar penicilina, à qual é alérgico, e teve o irmão assassinado.

    À época, ficou conhecido por "covers" de James Brown (1933-2006). É assim que muitos ainda hoje o reconhecem.

    Ele diz nunca ter imitado o ícone do soul-funk, mas "duplicado": "Tivemos a mesma origem e as mesmas dores. O que ele cantava eu podia cantar, pois era do coração."

    Foi entoando Brown que Bradley viu a sorte mudar. No começo do século, cruzaram seu caminho Gabriel Roth, cofundador da gravadora Daptone, e Thomas Brenneck.

    Guitarrista requisitado por nomes como Sharon Jones e Amy Winehouse (1983-2011), Brenneck o levou a um ensaio de sua Menahan Street Band.

    Com o "filho" e "irmão", como o chama, Bradley escreveria o disco de estreia, "No Time for Dreaming" (2012).

    A reviravolta de cinema norteia o documentário "Soul of America", de Poull Brien.

    Se Bradley já sabe por que é tão difícil vencer na América, como pergunta na canção mais famosa ("Why Is it So Hard")? "Porque sou negro", diz. "Hoje, se vir um carro de polícia, mudo de calçada".

    Lembranças tristes parecem passado no segundo álbum, "Victim of Love" (2013), de clima aprazível e até apaixonado. Você é feliz, Charles?

    "A vida é doce e amarga; às vezes me revolto, mas lembro das coisas boas e agradeço a Deus". Como? "Cantando do fundo da minha alma."

    Charles Bradley

    CHARLES BRADLEY
    QUANDO sábado (23), às 21h30, e domingo (24), às 19h
    ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
    QUANTO R$ 18 a R$ 60 (ingressos esgotados)
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos

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