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    CRÍTICA

    Autor de 'A Capital da Vertigem' capta espírito de SP e humaniza fatos históricos

    LEÃO SERVA
    COLUNISTA DA FOLHA

    23/05/2015 02h00

    Muitos ensaístas explicam tendências históricas pelo "zeitgeist", o espírito do tempo, que acaba conduzindo a opinião pública e os acontecimentos para lá ou para cá. "A Capital da Vertigem" capta outra categoria, o espírito da cidade, que acaba influenciando as decisões e os fatos, conduzindo a história para um lado ou para outro.

    Depois de quatro séculos vivendo na marcha lenta de uma pequena vila à margem no período colonial, como Pompeu narrou no volume anterior de sua biografia de São Paulo, "A Capital da Solidão", a chegada do café trouxe riqueza e milhões de novos moradores à Pauliceia.

    E estes, ao se integrarem, adotam padrões do espírito local como se o DNA paulistano se transmitisse pela garoa ou pelo asfalto.

    O pavimento das ruas, aliás, é elemento fundamental do trânsito de automóveis, talvez a mais forte representação dessa fixação pela velocidade, pela altura, pelo desenvolvimento, pela "vertigem", como define Pompeu.

    O livro é um relato jornalístico em que casos interessantes vão se desenvolvendo de forma mais ou menos linear, como em uma reportagem: personagens marcantes, pitorescos ou heroicos conduzem-nos de um momento a outro da história da cidade que trocava a marcha e acelerava para se tornar a maior do Brasil.

    A narrativa começa com a epifania de três amigos diante da visão de uma escultura moderna. Ali se manifesta o primeiro gene da Semana de Arte Moderna de 1922.

    Em seguida, pula para o seu personagem paradigmático, o conselheiro Antônio Prado, maior fazendeiro do café, político destacado do império, que o novo século e o livro de Pompeu vão encontrar como primeiro prefeito da cidade.

    Outros tantos protagonistas exemplares nos conduzem pelos episódios grandiosos da história, que ficam ao fundo do enredo.

    Famosos, como Washington Luís ou Monteiro Lobato, ou esquecidos, como Nenê Romano ou Tomoo Handa, os personagens humanizam os momentos históricos da primeira metade do século, como, por exemplo, a travessia do Anhangabaú, a Primeira Guerra, as greves operárias, a gripe espanhola,a Revolução de 1924, a Revolução de 1930, a ascensão getulista e a Revolução de 1932.

    A Capital da Vertigem
    Roberto Pompeu de Toledo
    livro
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    Pompeu comprova uma tese de historiografia, ainda por ser escrita: nas últimas décadas, alguns dos melhores relatos históricos sobre o Brasil foram escritos por jornalistas.

    Falta espaço para listá-los, mas pense na contribuição que deram ao conhecimento de nosso passado os livros de Jorge Caldeira, Laurentino Gomes e Roberto Pompeu.

    É provável que, além de ser a primeira leitura da história, o jornalismo se prove também a melhor forma de captar o sentido amplo de um período.

    A CAPITAL DA VERTIGEM
    AUTOR Roberto Pompeu de Toledo
    EDITORA Objetiva
    QUANTO R$ 59,90 (584 págs.)
    AVALIAÇÃO ótimo

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