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    Atores mais velhos se destacam em filmes de ação do cinema americano

    MANOHLA DARGIS
    A. O. SCOTT
    DO "THE NEW YORK TIMES'

    23/05/2015 02h00

    O verão deveria ser uma época juvenil, na qual os cinemas são entregues a desenhos animados, comédias e filmes baseados em brinquedos, histórias em quadrinhos e parques de diversões.

    É quando a constante obsessão dos estúdios em atrair as crianças atinge o clímax. No mundo do cinema, o verão do Hemisfério Norte começa na primeira semana de maio, o deste ano teve o lançamento de "Vingadores: Era de Ultron", com Chris Evans, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson e o ator cinquentão, Robert Downey Jr.

    "Vingadores" olha torto para os jovens, mas não totalmente: seu patriarca é Samuel L. Jackson, que não aparenta ter 66 anos.

    Robyn Beck/AFP
    Samuel L. Jackson na première
    Samuel L. Jackson na première

    A exemplo dos também sexagenários Denzel Washington e Bruce Willis, Jackson há décadas é um astro dos filmes de ação. Alguns de seus colegas, como Liam Neeson e Helen Mirren, são relativamente recém-chegados a esse gênero, depois de carreiras de sucesso em filmes mais artísticos.

    Ser um herói de ação não é a única forma de estrelato na maturidade. Meryl Streep, 65, eterna indicada ao Oscar e queridinha dos críticos, só nos últimos dez anos cumpriu seu potencial como chamariz de bilheteria.
    Desde 2006, ela atuou em cinco filmes que ultrapassaram ou se aproximaram da marca de US$ 100 milhões em ingressos vendidos na América do Norte.

    Astros com mais de 50 anos emprestam peso, talento e um profissionalismo experiente e tranquilo a projetos que, sem eles, talvez não tivessem essas qualidades. Quando um cineasta escala Streep para o elenco, tem quase certeza de uma atuação memorável.

    Ela significa dinheiro em caixa, assim como Morgan Freeman, o idoso que mais trabalha no cinema -honra que compartilha com Clint Eastwood, 84, que voltou a se tornar um fenômeno de público e crítica, provando novamente que o cinema vive um momento de conexão com a terceira idade.

    Em julho, Arnold Schwarzenegger, 67, cumprirá novamente sua promessa ("Eu voltarei") em "O Exterminador do Futuro - Gênesis". O primeiro "Exterminador do Futuro" saiu em 1984.

    Willis fez cinco "Duro de Matar" ao longo de 25 anos. Contando com a sequência esperada em breve, Tom Cruise já filmou cinco "Missão Impossível" desde 1996, quando, aos 33 anos, ainda tinha cara de menino.

    O símbolo mais visível do idoso em filmes de ação é Neeson, 62, que deu um novo rumo para a carreira na série "Busca Implacável", de forma similar ao que fez Charles Bronson em "Desejo de Matar".

    O primeiro "Busca..." arrecadou US$ 100 milhões no começo de 2009, fazendo de Neeson um dínamo nas bilheterias e dando início à tendência de recrutar atores idosos. Agora, todo mundo quer entrar em cena: Willis, Kevin Costner, Sylvester Stallone...

    Harrison Ford será para sempre Han Solo para milhões de fãs; aos 70 e poucos anos, estará novamente nesse papel em "Star Wars - O Despertar da Força", que estreia em dezembro. Ford também é Indiana Jones, claro, e agora assumiu a figura do vovô travesso num universo crescentemente dominado por pais irritados e superprotetores.

    Cada vez mais, as mulheres vêm assumindo papéis secundários nesse caos, e às vezes até mais do que isso. A capacidade que Mirren tem de criar personagens férreas e obstinadas -como a rainha Elizabeth 2ª e a detetive Jane Tennison na série "Prime Suspect"- a levou ao hiperviolento "Red - Aposentados e Perigosos", série cômica sobre assassinos e espiões idosos e aposentados.

    A franquia "Red" é uma espécie de "Os Doze Condenados" para a terceira idade, com a própria Mirren, 69, de roupa camuflada e manuseando armas.

    Esses filmes brincam com os estereótipos da idade e às vezes sucumbem a eles, muito embora a atuação sexy e espirituosa de Mirren destrua qualquer insinuação de que estaria no momento de ela se aposentar.

    A afirmação da sexualidade de uma mulher de meia-idade (ou mais) na tela de cinema é uma forma de rebelião num setor ridicularizado por sua tendência a limitar a desejabilidade da mulher a uma faixa etária estreita.

    Num filme de um grande estúdio americano, a imagem de Sandra Bullock dominando o universo em "Gravidade" ou de Streep como vocalista de banda de rock no novo "De Volta Para Casa" é quase revolucionária.

    Sempre houve lugar para veteranos no cinema, mas eles costumavam ser muito mais jovens. Gloria Swanson tinha só 50 quando interpretou Norma Desmond, a estrela do cinema mudo tragicamente fossilizada em "Crepúsculo dos Deuses", de Billy Wilder. Com essa mesma idade, Bullock foi eleita a mulher mais bonita do mundo pela revista "People".

    Os atuais filmes voltados para o grande público não se saem bem ao retratar o romantismo, e muitas vezes nem tentam, mas são exceções "O Exótico Hotel Marigold" e "I'll See You in My Dreams", com Blythe Danner e Sam Elliott, que estreia neste mês.

    Os cineastas e talvez o público parecem mais confortáveis em ver aposentados dando tiros e derrubando helicópteros do que fazendo amor.

    Embora o "cinemão" continue explorando o filão juvenil, outra coisa também está acontecendo: mais atores idosos em filmes não necessariamente sobre terceira idade.

    Os astros dos EUA, como o país que eles refletem, estão envelhecendo, um fato que eles ao mesmo tempo rejeitam e buscam aproveitar. Esses atores sempre foram símbolos de glamour e potência e costumam relutar em deixar os holofotes.

    Eles são também veículos para nossos ideais e aspirações, incluindo o sonho de envelhecer sem desacelerar, com ou sem uma metralhadora na mão. Eles estão mudando o rosto do estrelato, uma ruga de cada vez.

    RODRIGO LEITE

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