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    Após 12 anos sem disco inédito, Blur grava álbum concebido por acidente

    DAIGO OLIVA
    EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

    25/05/2015 02h10

    Nem Damon Albarn, nem Graham Coxon, tampouco Alex James. Nenhum membro do Blur aproveitou os 12 anos sem um disco de inéditas com tanta versatilidade quanto o baterista Dave Rowntree.

    Enquanto Albarn e Coxon gravaram aclamados álbuns solo e James virou um produtor de queijos, o discreto Rowntree, 51, tornou-se advogado criminal, desenvolveu projetos na área de animação e se filiou ao Partido Trabalhista britânico, pelo qual concorreu —e perdeu— ao cargo de vereador em 2010.

    Segundo ele, o tempo em que o grupo britânico de rock ficou separado serviu para que seus integrantes "percebessem que não era preciso viver apenas a banda". "Até aquele momento, tínhamos passado nossa vida inteira com o Blur", conta Rowntree, em entrevista à Folha, por telefone.

    "Agora temos uma vida com o Blur, outra com as nossas famílias, outra com os nossos projetos e carreiras", explica. "A banda é apenas uma das coisas que fazemos, talvez a que mais gostamos, mas, ainda assim, só uma de outras tantas atividades."

    O relacionamento mais arejado entre os músicos fez com que eles aproveitassem o cancelamento de um show no Japão, em 2013, para conceber o novo disco —ainda que de maneira acidental. Sem a apresentação em Tóquio, a banda foi obrigada a gastar uma semana em Hong Kong até o próximo show, que ocorreria na Indonésia.

    "Se tivéssemos encalhados em Paris, tomaríamos um trem para casa e não haveria álbum novo", relembra o baterista. "Mas, naquela situação, voltar a Londres demoraria quase dois dias para ir e outros dois para voltar. Ficar preso foi crucial. Damon sugeriu que fôssemos para um estúdio."

    Dali nasceu uma relação quase simbiótica com Hong Kong. Além de anunciar o lançamento de "The Magic Whip" em um restaurante chinês de Londres, a banda estampou ideogramas chineses na capa do álbum e recheou os vídeos dos primeiros singles com referências à região.

    Embora Rowntree diga que "o espírito, a cultura e a beleza de Hong Kong" estão no álbum de alguma maneira, a sonoridade de "The Magic Whip" mistura elementos anteriores do Blur –influências das carreiras solo do vocalista Damon Albarn e do guitarrista Graham Coxon e do estilo dos discos que definiram a banda na década de 1990, como "Modern Life Is Rubbish" (1993) e "Parklife" (1994).

    Naquela época, o Blur protagonizava uma disputa insana com o Oasis. Cada lançamento das bandas brigava pelo topo das paradas e Albarn e Liam Gallagher trocavam farpas nos tabloides.

    "Não é algo de que eu sinta falta dos anos 1990", pondera o baterista. "É muito empolgante quando a banda se torna mais e mais conhecida, mas, honestamente, nunca fui tão feliz como agora. Hoje podemos conseguir sucesso de uma outra maneira."

    Rowntree sabe, no entanto, que, embalada pela nostalgia do período, grande parte do público vai aos shows da banda para ouvir hits como "Song 2", "There's No Other Way", "Tender" e "Boys & Girls" –a onipresente canção em pistas de dança.

    "Eu nunca fico aborrecido de tocar as mesmas músicas porque toda vez é possível descobrir algo novo. Fazer música é algo criativo, então você sempre acaba achando um novo ângulo", defende ele.

    Mas o que acontecerá caso o Blur volte a se separar? O baterista não descarta uma nova corrida eleitoral. "Adoro o processo, é algo muito interessante mesmo quando se sabe que não vai ganhar. É bom saber que é possível fazer diferença na vida das pessoas."

    THE MAGIC WHIP
    ARTISTA Blur
    GRAVADORA Parlophone/Warner
    QUANTO R$ 30 (no iTunes)

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