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    'Rainha da quentura', escritora aposta no Brasil para livros pornográficos

    CHICO FELITTI
    DE SÃO PAULO

    25/05/2015 02h03

    Jaid Black, conhecida como a "rainha da quentura", tem 43 anos, mais de 100 kg, costuma se vestir com camisetões de ídolos do rock e usa os cabelos trançados com mechas sintéticas coloridas até a altura da cintura.

    O fenótipo distante das estrelas do pornô e uma síndrome do pânico que não a deixa sair muito das suas casas, na Califórnia e em Oregon, não evitaram que Black virasse sumidade em sacanagem.

    Divulgação
    A escritora americana Jaid Black, conhecida nos EUA como a "rainha da quentura", autora de prosa pornográfica para mulheres
    A escritora americana Jaid Black, conhecida nos Estados Unidos como a "rainha da quentura"

    A mãe de família americana –tem uma filha de 24 anos e outra de 17– é casada com um ex-presidiário, que conheceu por cartas enquanto ele cumpria pena por homicídio, e foi uma das que mais lucrou no nicho fetiche do mercado literário: prosa pornográfica para mulheres.

    Black vendeu mais de 10 milhões de livros desde que começou a escrever, por conta de uma desilusão.

    "Os livros eróticos fechavam a porta na hora do sexo. Eu queria ver o que rolava no quarto." No fim da década de 1990, quando trabalhava vendendo passagens de avião, começou a escrever a tórrida história de amor de um alienígena com uma americana loira na casa dos 20 anos.

    Tentou vender os originais do livro, "The Empress' New Clothes" (as roupas novas da imperatriz), para editoras como a Harlequin, que publica livros com sarados besuntados em azeite na capa sob títulos como "Sabrina" e "Bianca". "Ouvi de todas que era muito pesado",diz, fumando um cigarro mentolado.

    Abriu então um site e uma editora própria, a Ellora's Cave, que já publicou dezenas de livros seus e cerca de 4.000 de outras 200 autoras.

    Primeiro, vendia os livros gravados em CDs que iam até o cliente pelo correio. Depois, aderiu ao surgimento do e-book para aparelhos como o Kindle. "Mas agora dei uma broxada desse mercado."

    Em 2000, lucrou cerca de R$ 120 mil. No ano seguinte, já contava com uma renda de R$ 3 milhões. De 2007 a 2012, teve receita anual de US$ 10 milhões (cerca de R$ 33 mi) vendendo livros pelo site ou e-books. Mas, de 2012 para cá, vem perdendo US$ 2 milhões dessa receita por ano.

    E culpa a maior negociadora de livros virtuais por isso: "Quando você busca um livro com meu nome, os dois primeiros que aparecem não são meus, são de autores da Amazon e são gratuitos, enquanto os meus são pagos".

    Procurada, a Amazon não comentou a história. A crise levou-a a, nos últimos meses, dispensar 15 funcionários.

    Escritoras a acusam publicamente de atrasar o pagamento de direitos autorais. Ela responde que "teve alguns atrasos, mas as contas agora estão em dia".

    PARA BRASILEIRAS

    A onda de "Cinquenta Tons de Cinza" tampouco abriu o apetite dos seus leitores. "Esse livro não fez bem para o pornô. Só trouxe a atenção dos homens para o assunto, porque as mulheres já estavam lendo", afirma Black, que passou anos sem dar entrevistas por desconfiança da mídia.

    "A crítica nunca vai gostar de mim, por eu ser mulher e fazer algo que consideram menor. E tudo bem."

    Um dos antídotos contra o mau momento é buscar novos mercados, um deles, o Brasil. Ela tem planos de verter, ainda em 2015, vários títulos para o português.

    "Procuro parcerias para isso, porque penso na brasileira como a heroína dos meus livros: sexuais, autoconfiantes, safadas e com capacidade de escolher um homem porque têm tesão e não por necessidade material".

    Cerca de oito volumes já foram traduzidos e colocados à venda on-line nas últimas semanas, como "A Mulher de Ral", no qual a heroína encontra alienígenas superdotados (e não é no cérebro).

    No fim da entrevista, Black diz estar tranquila com sua carreira, mesmo que a pornografia feminina deixe de ser o estilo literário da vez.

    "Nós somos mulheres e fortes. Não seremos mortas por uma indústria que não respeita a arte e que deseja fazer de livros uma 'commodity' com menos valor do que um rolo de papel higiênico."

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