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    Semana na TV tem 'Azul É A Cor Mais Quente', faroeste e comédia nacional; programe-se

    INÁCIO ARAÚJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    25/05/2015 10h30

    SEGUNDA-FEIRA (25)

    Se existe um problema nos filmes em que se trata de homossexualidade é o fato de a sexualidade, quase sempre, ocupar um lugar central não por ser central na vida humana, mas por conta do preconceito que cerca o tema.

    Boa parte de "Azul É a Cor Mais Quente" (2013, Max, 20h) parte gira em torno da descoberta do prazer pela jovem Adèle. Esse prazer ela encontrará com Emma, a menina dos cabelos azuis.

    Divulgação
    A atriz Adèle Exarchopoulos em cena de "Azul É a Cor Mais Quente"
    A atriz Adèle Exarchopoulos em cena de "Azul É a Cor Mais Quente"

    E, no entanto, talvez o que menos importe no filme de Abdellatif Kechiche seja o "beijo gay" e suas extensões. Trata-se de saber o que é um homem. E Kechiche tratará o tema com a grandeza das tragédias. Pois o trajeto de Adèle passa pela impossibilidade de contornar o que há de específico em sua sexualidade.

    O filme não releva o aspecto "gay" da história e tem no centro o mistério da sexualidade. Eis um filme sobre "gays" que se permite não ser "gay" ou "antigay": qualquer um pode se ver em Adèle e compreendê-la.

    TERÇA-FEIRA (26)

    O que não falta em "Divã" (2009, TNT, 18h53) são defeitos que podem ser notados pelo espectador, começando pelo fato de a quarentona Mercedes (Lilia Cabral), após alguns anos de divã psicanalítico, transar com nada menos que o galã da moda naquele momento, Reinaldo Gianecchini.

    Coisas da Globo, certamente. Não dava para ela topar simplesmente um cara que a satisfizesse, bom sujeito, eventualmente quarentão ou um pouco mais... Com efeito, o divã do dr. Freud faz milagres, quando a Globo quer.

    Se todo o problema fosse esse, estava bom. Nesses cinco ou seis anos que se seguiram ao filme, essa história de uma mulher que parte em busca de se conhecer parece Shakespeare perto das coisas "populares" que se tem dado a ver.

    "Divã" fez sucesso. O que demonstra que filmes sobre seres humanos e seus problemas podem sensibilizar o espectador dito "comum", que de comum nada tem, claro.

    QUARTA-FEIRA (27)

    Existe algo de perverso nas fabulosas histórias de jovens milionários que têm constituído até aqui a mítica do século. Uma delas é a de Mark Zuckerberg, que criou o Facebook para contato com pessoas, garotas sobretudo, de sua universidade e terminou como magnata.

    O perverso disso está em que a riqueza tornou-se uma aspiração em si. O espírito criador não é mais do que um meio. Ninguém imagina Einstein ou a Madame Curie amealhando fortunas com uma descoberta e encerrando a vida intelectual: o entendimento era o fim – não o iate e a mansão.

    O interessante em "A Rede Social" (2010, Megapix, 23h50) é que David Fincher trabalha esse aspecto perverso do contemporâneo sem por isso desmerecer o que possa haver de interessante na aventura de um inventor como Zuckerberg.

    Ok. Mas o grande filme de hoje é o clássico faroeste "Sua Única Sapida" (1948, TC Cult, 0h25), de Raoul Walsh.

    Divulgação
    Cinema: Mark Zuckerberg, interpretado pelo ator norte-americano Jesse Eisenberg, em cena do filme "A Rede Social" ("The Social Network")
    Cinema: Mark Zuckerberg, interpretado pelo ator norte-americano Jesse Eisenberg, em cena do filme "A Rede Social" ("The Social Network")

    QUINTA-FEIRA (28)

    É difícil encontrar história mais banal que a de "Adorável Pecadora" (1960, Cultura, 22h). Ali, Yves Montand é o arquimilionário que, ao ver Marilyn Monroe, uma atriz, se apaixona por ela.

    Seria fácil para um milionário aproximar-se da garota. Mas ele não quer ser amado pelo seu dinheiro, mas sim pelo que é, aquela xaropada toda. Como, então, estarmos diante de um filme absolutamente fascinante?

    É claro que Marilyn ajuda um monte. E que estar de caso com Montand na época não atrapalhava. E nem Montand. Há a direção fantástica de George Cukor, o melhor diretor de atrizes da Hollywood clássica.

    Mas existe algo que faz parte do cinema e tantos relutam em notar: a história é apenas um dos aspectos de um filme, e não o central. É próprio do cinema absorver o banal da trama e, sobre gestos, movimentos, entonações, erigir o fabuloso partindo de um pobre fabulário. É bem o caso aqui.

    SEXTA-FEIRA (29)

    Um fenômeno pouco frequente é ver uma atriz que se tornou estrela pela TV sentir-se à vontade no cinema. Tome-se o caso de Glória Pires. É capaz de fazer filmes, e muito bem, mas parece que está louca para voltar para as novelas.

    Não é o que transmite Alessandra Negrini. Ela pode se arriscar ao ponto de fazer uma Cleópatra para Julio Bressane. E pode ser a infeliz Violeta, que o marido larga sem nenhuma explicação (talvez o início seja o melhor do filme) em "Abismo Prateado" (2010, Cinemax, 20h), de Karim Ainouz.

    Não é o que Ainouz produziu de melhor: trata-se, aliás, de uma produção relativamente modesta, centrada num ator só (numa atriz), com alguns comparsas pouco desenvolvidos surgindo aqui ou ali para acompanhar a atônita, solitária Violeta.

    Mas é inegável que dá certo prazer ver uma estrela (e boa atriz, no mais) dedicar-se ao seu papel e fazer o personagem viver.

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    Alessandra Negrini em cena do filme "O Abismo Prateado", de Karim Aïnouz
    Alessandra Negrini em cena do filme "O Abismo Prateado", de Karim Aïnouz

    SÁBADO (30)

    Numa cidade de fronteira, entra o Brasil e o Uruguai, algumas pessoas vivem de fazer pequenos contrabandos entre os dois países, entre elas o protagonista de "O Banheiro do Papa" (2007, Arte1, 20h).

    Essas pessoas enchem-se de fé quando é anunciada a visita do papa ao local. Presume-se que haverá uma afluência de uma multidão que precisará de uma série de coisas. Entre elas banheiros, como conclui o protagonista.

    Veremos o que virá depois nesta comédia dramática bem urdida de César Charlone e Enrique Fernandez.

    Logo em seguida, quem estiver de bobeira neste sábado poderá escolher entre dois belos programas: o policial "Justiça Cega" (1990, Paramount, 22h), de Mike Figgis, em que Andy Garcia faz o tira da seção de assuntos internos da polícia que investiga outro tira, Richard Gere.

    No mesmo horário, o Futura entra com o clássico "O Encouraçado Potenkim" (1924), de S.M. Eisenstein.

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