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    CRÍTICA

    Filme 'Os Últimos Cangaceiros' traça panorama multifacetado do cangaço

    ELEONORA DE LUCENA
    DE SÃO PAULO

    28/05/2015 02h40

    "Ladrão!", gritava o policial, enquanto batia no jovem acusado de furtar um carneiro. "Cidadão!", rebatia o preso, negando o crime.

    A prisão e a tortura foram o estopim para que Antônio Ignácio da Silva deixasse Brejo Santo, no sertão do Ceará. Aderiu então às tropas de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, em 1930. No bando, seu nome virou Moreno.

    Responsável por mais de 20 mortes, escapou do cerco ao grupo e fez vida nova com Durvalina Gomes de Sá, a Durvinha, integrante do bando. A moça era apaixonada por Virgílio, mas este foi morto, abrindo espaço para Moreno.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Cena do filme "Os Últimos Cangaceiros" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena do filme "Os Últimos Cangaceiros"

    A trajetória do casal só foi desvendada em 2006, quando eles resolveram contar publicamente suas aventuras. Agora, a história está em "Os Últimos Cangaceiros", do cearense Wolney Oliveira.

    Baseado no depoimento dos dois, o documentário usa filmes clássicos sobre o cangaço. Está lá a preciosidade do libanês Benjamin Abrahão (1890-1938), o único a filmar, em 1936, o bando de Lampião.

    Durvinha sente falta da figura jovem, brejeira e vibrante que foi. Ainda lamenta a ausência de Virgílio, e o romance fugaz deu lugar a uma cômoda convivência resignada.

    As entrevistas são mescladas com falas de amigos, parentes, estudiosos e policiais que reprimiam os bandoleiros. A fita traça um panorama multifacetado do movimento, carregado da ambiguidade entre heroísmo e bandidagem.

    Moreno (1910-2010) e Durvinha (1915-2008) não arriscam análises sobre o que fizeram. Contam a crueza das vidas, a fome, a fuga, o abandono de filhos. Embora simpático aos velhinhos, o filme não deixa de tratar do lado perverso da turma. Falam de crueldade, assaltos, matanças.

    Sem se aprofundar em questões políticas e sociais, o longa é um documento. As histórias dos cangaceiros trazem colorido a um tempo em que a pobreza e a violência produziam deserdados errantes e nutriam explosões sociais.

    Os últimos cangaceiros

    OS ÚLTIMOS CANGACEIROS
    DIREÇÃO Wolney Oliveira
    PRODUÇÃO Brasil, 2011, 14 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (28)
    AVALIAÇÃO bom

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