Estreia no longa-metragem de Xiaoling Zhu, diretora chinesa radicada há 20 anos na França, "A Menina dos Campos de Arroz" é o primeiro filme falado em dong, língua minoritária do Sul da China considerada extremamente complexa.
Rodado com atores não profissionais e com equipe técnica francesa, o filme é uma crônica próxima do documentário, ritmada pela sucessão das estações do ano, que põe em evidência uma família cuja identidade cultural está ameaçada pela modernidade.
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Cena do filme Menina dos Campos de Arroz |
O povo dong viveu durante muito tempo em autarquia, isolado nas montanhas, e só começou a ter contato com certo "progresso" nas últimas duas décadas. Tem tradições ancestrais como o cultivo de arroz em terraços na montanha, a refinada arquitetura em madeira, o canto –que são mostradas por Zhu com olhar quase etnográfico.
A Qiu (Yang Yinqiu) é uma garota de 12 anos que divide seu tempo entre a escola e o trabalho nos arrozais da família. Com a morte da avó, seus pais, que trabalham em grandes obras de construção civil numa grande cidade, retornam ao vilarejo natal cada vez mais despovoado por conta do êxodo rural.
A Qiu, que sonha em ser escritora, conduz a narrativa comentando os acontecimentos e discorrendo sobre si mesma e seus desejos de emancipação.
Saturada de temas –o confronto entre tradição e modernidade, o êxodo rural, a relação do homem com o trabalho, os combates entre búfalos, os dramas de A Qiu–, a proposta da diretora acaba se revelando ambiciosa demais.
Ela parece hesitar entre as múltiplas possibilidades oferecidas pela ficção e a urgência de documentar um mundo e um modo de vida em vias de desaparecimento. Não aprofunda tema algum e cai no didatismo, algo acentuado pela voz narrativa da menina, que muitas vezes interfere no que mostra a imagem.
O aspecto mais interessante é justamente a imagem, que destaca o que a paisagem tem de mais solene e suntuoso. O apuro formal da fotografia é decisivo para capturar a atenção do espectador.
A MENINA DOS CAMPOS DE ARROZ
DIREÇÃO Xiaoling Zhu
ELENCO Yang Yinqiu, Xiang Chuifen, Shi Guangjin, Wu Shenming
PRODUÇÃO França e China, 2010, livre
QUANDO estreia nesta quinta (28)
AVALIAÇÃO regular