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    'Cozinhar é quase erótico', diz chef Paola Carosella do 'MasterChef'

    LUIZA FECAROTTA
    CRÍTICA DA FOLHA

    31/05/2015 02h30

    "Cozinhar é um ato sensual. Cozinhar com fogo, quase erótico." Paola Carosella, 42, musa do "MasterChef", exala uma aura lasciva.

    Suas receitas, lá atrás, já eram carregadas de sensualidade e pureza, com ingredientes no estado bruto. Agora, na televisão, essa singularidade parece ter reforçado seu estrelato: virou protagonista do reality gastronômico da Band, maior audiência da emissora depois do futebol.

    Justo a moça que, nascida numa família pobre na Argentina, sempre se achou feia e teve uma adolescência solitária. Paola pouco circula pelo salão de seu restaurante Arturito, em São Paulo, e, dia após dia, reafirma uma postura low profile enfiada na cozinha, próxima do fogo, que ela mesma alimenta com lenha –e com o qual estabeleceu uma relação visceral.

    "A energia do fogo é poética, hipnótica. Não tem como não se relacionar com ele. Você pode esquecer um tuppeware no micro-ondas, mas não um cordeiro na brasa."

    Paola nasceu em 1972 e passou grande parte da infância com seus avós maternos, em uma casa ajardinada, nas cercanias da capital Buenos Aires.

    Os mesmos avós que chegaram a uma América Latina do final dos anos 1940, vindos de uma Itália destruída, sem esperança, e tiveram de viver em um cortiço onde ouviam barulho de ratos.

    Carol Gherardi/Divulgação/Band
    https://www.flickr.com/photos/129558347@N08/17342457200/in/album-72157650165655203/Paola Carosella, jurada do "MasterChef"
    Paola Carosella, jurada do "MasterChef"

    COELHOS E GALINHAS

    A casa que eles mesmos ergueram está presa na memória –e no estômago– de Paola. Um quintal espaçoso, com coelhos, galinhas, frutas, verduras. Lenha. Churrasqueira, chapa, forno. E as azeitonas que seu avô usava para fazer o azeite de oliva, as uvas que eram pisadas em família para virar vinho, "um vinho horrível", ela lembra –e ri.

    Era lá que Paola vivia uma rotina que desapareceu, de paz, tranquilidade, com pausa para o chá da tarde. Ali ela ajudava a avó no trabalho manual da tecelagem e passava horas a limpar caracóis trazidos pelo avô –caminhoneiro e pescador.

    SÓ, SOMENTE SÓ

    Paola achava a escola um tédio. Passava tardes sozinha no apartamento minúsculo, em Buenos Aires, enquanto sua mãe trabalhava o dia todo e cursava direito à noite. Ela assistia religiosamente a um programa de culinária na TV –do qual pinçava receitas para o seu caderno de notas e para o fogão.

    Diante de uma bancada estreita, com seus 14, 15 anos, cozinhava para receber a mãe enquanto brincava de encenar um roteiro para a televisão, fisgando um ou outro ingrediente da geladeira.

    "Queria surpreender minha mãe, queria que ela se sentisse bem." Punha a mesa, fazia arranjos de flor, entrada, prato, sobremesa.

    "Minha mãe era uma guerreira, mas era também uma mulher triste. Então, às vezes, ela não queria nem sentar. Era difícil. Não foi tão fácil assim", diz –respira fundo, com os olhos cheios d'água.

    Seu primeiro chef em um restaurante tinha "rasgos de perversão". Não era bem o que se entende por trabalho –sua mãe tinha de pagar, a duras penas, US$ 100 por mês para que a filha pudesse "trabalhar".

    Mas também encontrou acolhimento e repertório em suas experiências. Tomou como família, por exemplo, o trio que tocava um restaurante creole avarandado e, como mestre, o sociólogo com quem dividia a cozinha.

    Ele a fez comprar a enciclopédia "Larousse Gastronomique" para que estudasse nas horas vagas e depois lhe tomava o conhecimento oralmente, enquanto trabalhavam.

    Quando mudou-se para Paris –aos 19 anos, com um francês "precaríssimo" e dinheiro contado–, foi estagiar por três meses em um restaurante duas-estrelas "Michelin".

    "Tentei permanecer o tempo que deu, mas foi tão sinistro que liguei chorando para a minha mãe depois de pouco mais de um mês", conta. Paola era a única mulher na cozinha. "Era violento. Violento."

    Ela passou por outras cozinhas na França e naquele país aprendeu a disciplina, o rigor, o comprometimento. "Quanto está o quilo da lagosta do mercado de Marseille?", perguntava um chef aos cozinheiros. "Quem não sabia responder limpava a praça de quem sabia, que podia ir embora mais cedo."

    Divulgação
    A chef Paola Carosella, do Arturito
    A chef Paola Carosella, do Arturito

    EXAUSTÃO

    Quando Paola olha para uma participante do "MasterChef" que se atrapalhou ao fazer um ravióli recheado de gema mole, e diz, firme, a ponto de soar impiedosa: "Você não está preparada para essa competição, está muito nervosa", não é crueldade.

    É como se ela tivesse emprestando a experiência que teve para falar da realidade.

    Trocando em miúdos: lavou cozinhas, à exaustão, depois de jornadas exaustivas; chegou a ser trancada em um quarto de produtos de limpeza por oito horas; comandou uma equipe de 60 homens n'A Figueira Rubaiyat, o primeiro restaurante que tocou em São Paulo, em 2001, por intermédio de seu mestre, Francis Mallmann, o argentino rei do fogo.

    Paola se divide entre suas paixões: a cozinha, a filha, o namorado, as viagens. Ela vive só, com sua filha de três anos e meio –o pai é um argentino que também mora em São Paulo. Francesca vai ao Arturito, circula pelos bastidores e pede aos cozinheiros para comer lulas.

    Hoje, viaja ainda mais. Vai ao encontro do namorado, inglês, sempre que pode. O parceiro, ela conta, "é um dos fotógrafos de comida mais importantes da Europa". Jason Lowe já fotografou para mais de 260 livros de gastronomia.

    "Estamos cada dia mais apaixonados." Isso que te deixa tão sensual? "Deve ser a felicidade. Depois de anos muito difíceis, eu estou feliz."

    NA TV
    MASTERCHEF BRASIL
    Exibição da 2ª temporada
    QUANDO às terças, 22h30, na Band

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