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    CRÍTICA

    Apesar de trama promissora, longa nacional 'Permanência' deixa a desejar

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    30/05/2015 02h30

    Leonardo Lacca escolheu um caminho de risco para sua estreia no longa, com "Permanência": fazer um filme todo em tons rebaixados, tratando de eventos sentimentais que, pode-se dizer, situam-se sempre "entre".

    O filme acompanha o fotógrafo Ivo (Irandhir Santos), que vai a São Paulo para uma exposição de seu trabalho. Mas algo ficou em Recife, sua cidade. Notamos isso logo que chega ao apartamento de Rita, sua amiga.

    Amiga, mas o constrangimento leva crer em algo mais: algo que se deu no passado, em Recife. Esse trajeto, portanto, é cheio de reminiscências, de sentimentos que passaram e não passaram. Como Rita está casada, o constrangimento logo atingirá também o seu marido. A vida a três comportará reencontro, traição, desgostos.

    Nada de mais, enfim. Nada que desvie Lacca de sua ideia de fazer um filme focado estritamente na vida cotidiana: pessoas correntes, com problemas correntes.

    O marido, homem de iniciativa; o amigo ex-namorado, artista; a moça, perdida entre São Paulo e Recife, o marido e o ex. E também Ivo sempre em trânsito: entre a galeria e a casa. Ou entre Rita, a ex, e a garota da galeria.

    O problema desse tipo de opção é que não é fácil manter o fôlego, apesar de enquadramentos sensatos, de imagens bem originais de São Paulo, da boa presença de Irandhir Santos.

    Surgem problemas tais como distinguir entre o tom baixo e o puro e simples desânimo na direção de atores; ou entre o coloquialismo das situações e o puro e simples vazio.

    Tudo que faz de "Permanência" uma experiência a reter –pelo que pode render no futuro– também faz o espectador ficar um pouco prevenido quanto a esse futuro. Conseguirá o diretor dominar esse registro difícil que escolheu?

    Ou ainda: a presença de imagens à maneira de Edward Hopper em cena ganhará uma vida própria ou tenderá a repetir literalmente o trabalho do pintor americano? Ou seja: será que a referência, que pode ser interpretada como um ligeiro pedantismo, conseguirá ultrapassar essa barreira para se firmar como influência efetiva?

    Ainda que tenham de amadurecer até resultarem num filme satisfatório, as ideias de Lacca são promissoras o bastante para deixar o espectador curioso sobre seu devir.

    PERMANÊNCIA
    DIREÇÃO Leonardo Lacca
    ELENCO Irandhir Santos, Rita Carelli
    PRODUÇÃO Brasil, 2014, 14 anos
    QUANDO em cartaz
    AVALIAÇÃO regular

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