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    Fãs históricos de Grateful Dead trocam van por jatinho para ver show

    KATHERINE ROSMAN
    DO 'THE NEW YORK TIMES'

    30/05/2015 02h00

    Há 27 anos, Adam Cott e alguns amigos entraram em uma van Opel 1974 e viajaram 300 quilômetros até Saratoga Springs (Nova York) para assistir a um show do Grateful Dead. Foram devagar, porque o carro, que também serviu como dormitório, tinha um buraco no assoalho.

    Agora Cott, 45, é empresário e pai de família. Em julho, quando ele for a Chicago com a mulher e seus velhos parceiros para ver um show do Grateful Dead, o grupo vai se hospedar no hotel Peninsula. E chegará à cidade de jatinho particular, ao custo de US$ 4.000 por hora. "Estou desfrutando do resultado do meu trabalho."

    O Grateful Dead -cujo vocalista original, Jerry Garcia, morreu em 1995- anunciou em dezembro que irá se reunir para os três últimos shows de sua história, uma temporada chamada "Fare Thee Well", no estádio Soldier Field, onde Garcia fez sua última apresentação. Os membros da banda, Phil Lesh, Bob Weir, Mickey Hart e Bill Kreutzmann, terão a companhia de Trey Anastasio, do Phish, no lugar de Garcia, e também de Bruce Hornsby e Jeff Chimenti.

    Divulgação
    ORG XMIT: 224701_0.tif Música: público vibra durante show da banda Grateful Dead. (Foto Divulgação)
    Show da banda Grateful Dead

    A plateia desse show terá muita gente que acompanhou as últimas turnês do Dead nas décadas de 1980 e 90. Aqueles jovens, que à época eram na maioria universitários, estão hoje na faixa dos 40 a 50 anos e têm bastante dinheiro.

    "Esse é um evento de demanda incrivelmente alta", disse Jesse Lawrence, criador e executivo-chefe do site TiqIQ, buscador de ingressos para shows. Segundo dados recentes do TiqIQ, o preço médio do ingresso para um show da temporada "Fare Thee Well" em Chicago é de US$ 938.

    Uma agência do correio em Stinson Beach (Califórnia) ficou sobrecarregada com pedidos postais de ingressos -evocação da forma como a banda tradicionalmente vendia ingressos para seus shows. Posteriormente, quando 50 mil ingressos adicionais foram disponibilizados, o público sobrecarregou também o site Ticketmaster.

    "Poderíamos ter vendido 1 milhão de ingressos", disse Peter Shapiro, 42, organizador do show. Trabalhando em estreita parceria com os empresários dos músicos sobreviventes, Shapiro colocou de pé a ideia de um viva final à banda em seus 50 anos. "Há muito dinheiro sendo ganho", disse Shapiro, observando que, ao contrário do que acontece em outros shows e turnês, nesse não há patrocinadores corporativos. "Todo mundo quer que seja como em 1993, e estamos tentando, mas ainda assim estamos em 2015."

    Para David Honig, 46, tentar obter ingressos por via postal é recuperar um ritual de sua vida universitária, quando ele viu cerca de 80 shows. Ele decorou o envelope do pedido com fotos de shows antigos do Dead, porque antigamente se acreditava que os fãs com os envelopes mais chamativos tinham mais chances de conseguir ingressos. Ele conseguiu os dele e vai se hospedar no J.W. Marriott.

    "Costumávamos ver o Dead em Las Vegas e dormíamos em doze pessoas num quarto de hotel de beira de estrada", disse. "Nós somos os mesmos, mas agora temos dinheiro. Para ser um 'deadmaníaco' e adorar a música você não precisa ser um hippie vivendo numa comunidade."

    Tony Dwyer, 64, gestor de capitais em Stuart (Flórida), não foi sorteado para comprar um ingresso pelo correio e, como fã "histórico" da banda, se revoltou. "Acho que qualquer um que pague milhares de dólares por um ingresso está fora de si."

    Já o quiroprático Dean Sottile, 45, pai de dois filhos, morador de Nova Jersey e dono do blog Grateful Dean, está tranquilo. Ele se surpreendeu com a demanda por ingressos, porque os músicos sobreviventes há anos fazem turnês regulares sozinhos ou com outras bandas. Claro, ele tem saudade da época em que pegava uma mochila e US$ 40 e passava o verão acompanhando os shows do Dead. Mas sabe que os tempos são outros.

    Ele comprou o pacote "Steal Your Face", que dá direito a ingressos para os shows de Chicago, um quarto no Marriott e regalias no estádio, como o acesso a um bufê. Custa cerca de US$ 2.600, sem a parte aérea.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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