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    Crítica

    Musical 'Bilac Vê Estrelas' tem ótimas composições originais

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    05/06/2015 02h15

    É um musical que chega a ser anacrônico, mas não por tratar do distante Brasil de 1903 e sim por acreditar tão despudoradamente no país.

    Num momento de esperança no chão, termina apoteótico com os versos "Queiram os irmãos Wright ou não/ É brasileiro o inventor do avião/ Olha que eu engrosso/ Não mete a mão que o avião é nosso". Nada mais contra a corrente, resgatando um nacionalismo, por sinal, característico do teatro musical carioca desde o século 19.

    Vindo de temporada bem-sucedida no Rio, é esse o ambiente que "Bilac Vê Estrelas" tem de enfrentar e vencer de novo, agora em São Paulo. Na apresentação de domingo (31/5), fechando o fim de semana de estreia, conseguiu.

    A explicação é que os versos e melodias de Nei Lopes, certamente estimulados pela escrita de Ruy Castro, nada têm de ingênuos. São derrisórios, quase brechtianos.

    E são canções características do gênero no Brasil, ao se apoiarem em duplo sentido, ridicularizarem poderosos, abraçarem ironia sem parar. Vale para as letras e para a grande variação de gêneros musicais, com efeito cômico, adotada por Nei Lopes, mas também para o elenco.

    André Dias, como Olavo Bilac, e Alice Borges, como Madame Labiche, que funciona como narradora, são as grandes expressões desse humor crítico, que se estende porém a todos os 12 atores-cantores.

    O Bilac de Dias é leal e sonhador, de gestos corteses, mas ao mesmo tempo ridículo, vaidoso, eventualmente vesgo –o ator, que não é, evita abusar do recurso cômico. Dias, sobretudo, canta como ninguém, com uma bela voz grave que chama a atenção.

    A narradora feita por Alice Borges é uma das criações da boa adaptação teatral de Heloisa Seixas e Julia Romeu, sobre o romance de Castro, em que Labiche praticamente inexiste. Sarcástica e envolvente, a atriz garante que o público não se deixe levar demais pelas esperanças de "Bilac", mantendo o pé no chão.

    Mas o melhor da peça está mesmo nas canções de Lopes, sempre surpreendentes em gênero, da "ária de ópera bufa" ao maxixe, e sobretudo nas letras, sem medo de acrescentar, aqui e ali, uns palavrões. E com uma teatralidade que remete aos melhores musicais de Chico Buarque.

    BILAC VÊ ESTRELAS
    QUANDO: SEX. E SÁB., ÀS 21H, DOM., ÀS 18H; ATÉ 26/7
    ONDE: ESPAÇO PROMON, AV. PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHEK, 1.830, TEL. (11) 3071-4236
    QUANTO: R$ 60
    CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS

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