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    Crítica

    Cenário 'afunda' na água em espetáculo sobre a poeta Sylvia Plath

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    08/06/2015 02h50

    O dramaturgo David Hare, ao responder sobre seu roteiro para o filme "As Horas" (2002), afirmou existir um padrão de suicídio literário feminino, "aquele desespero lancinante" que vai de Virginia Woolf (1882-1941) a Sarah Kane (1971-99).

    Um dos problemas da peça "Ilhada em Mim", sobre a poeta americana Sylvia Plath (1932-1963), é que não se concentra nela, em sua tragédia individual, mas na relação com o marido, o também poeta Ted Hughes –de quem já estava separada, registre-se.

    Seu desespero lancinante é reduzido assim a um conflito conjugal, clichê reforçado pelo fato de Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes, atores que os interpretam, serem casados. E também pelo texto costurado por Gabriela Mellão a partir de excertos de Plath e Hughes.

    Sesc Pinheiros/Auditório
    Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes em montagem da peça "Ilhada em Mim", sobre Sylvia Plath
    Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes em montagem da peça "Ilhada em Mim", sobre Sylvia Plath

    A ótima encenação do próprio Guerreiro Lopes não chega a ser solução para esses e outros problemas, mas transforma os 60 minutos do espetáculo numa experiência formal que consegue se sobrepor, em muitos momentos, ao dramalhão familiar.

    A cenografia é uma grande instalação, com o piso coberto por vários centímetros de água remetendo, não a Plath, que se matou asfixiada por gás, mas ao afogamento da Ofélia de "Hamlet", entre outras, certamente mais simbólico para mulheres suicidas.

    Os móveis afundando-se na água, os objetos que derretem e caem das bambolinas, os figurinos que se colam, molhados, ao corpo de Sylvia/Djin: é uma encenação com signos e sentidos que conseguem muitas vezes escapar, para o bem do público, das amarras da peça.

    Mas que acabam eventualmente voltando à trama dramática, também na encenação, por exemplo, com as vozes gravadas de ambos, em off.

    ILHADA EM MIM
    QUANDO: QUI. A DOM., ÀS 20H; ATÉ 14/6
    ONDE: TEATRO SÉRGIO CARDOSO, R. RUI BARBOSA, 153, TEL. (11) 3288-0136
    QUANTO: R$ 30

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