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    Semana tem clássicos do cinema na TV, de Tarantino a Hitchcock; programe-se

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    08/06/2015 16h34

    SEGUNDA-FEIRA (8)

    Charlton Heston foi, em outros tempos, ninguém menos que um carismático Moisés. Depois foi Ben-Hur, El Cid, foi o senhor da guerra, Júlio César, Michelangelo e tantos outros, sem falar que graças a sua interferência Orson Welles pôde dirigir "A Marca da Maldade".

    Quem mais indicado, portanto, para salvar a humanidade do que ele no filme sintomaticamente denominado "A Última Esperança da Terra" (1971, MaxPrime, 19h30)?

    No roteiro desenvolvido a partir de um texto de Richard Mattheson, a humanidade é liquidada após uma devastadora guerra atômica. Restam alguns grupos de mutantes (e melhor seria que não tivessem sobrado) e ele, Charlton, que passa ileso por radiações e tudo mais.

    Enquanto tenta escapar dos monstros, ele procura outros sobreviventes não mutantes. Boris Sagal dirige com brio sua trupe e o roteiro ainda bem atual: o fantasma do fim do homem é bem persistente.

    TERÇA-FEIRA (9)

    Em "O Jogo da Imitação", o matemática Alan Turing esclarece porque o homem aprecia a crueldade: porque dá prazer.

    Divulgação
    Mel Gibson em cena de "Mad Max"
    Mel Gibson em cena de "Mad Max"

    Quase sempre, o prazer é de quem pratica a violência. Mas o central em uma série de filmes, inclusive "Mad Max" (que agora retorna e com sorte: levado pelo mesmo George Miller que criou a saga), é que, por trás da capa de civilização, animalidade e violência é que conformam os atos do homem.

    Na crise, some a etiqueta. Na série original, foi a gasolina que faltou. E, quando chegamos a "Mad Max 3 - Além da Cúpula do Trovão" (1985, HBO Plus, 12h20), Mel Gibson virou uma espécie de chofer de diligência que, após ser roubado no deserto e deixado ali para morrer, encontra a comunidade onde pontifica Tina Turner.

    E, com o perdão de Mel Gibson, será essa mulher perversa que dominará a cena e a tornará memorável. Reina sobre um mundo cruel, mas é marcante.

    QUARTA-FEIRA (10)

    Se existe um filme em que é intrigante descobrir como Hitchcock vai fazer sua famosa aparição é "Um Barco e Nove Destinos" (1944, TC Cult, 22h).

    Afinal, estamos no meio do oceano, num bote salva-vidas. Depois de um naufrágio, oito ocupantes de um bote salva-vidas recolhem um alemão do mar. Não é boa coisa: disfarçado que só ele, o alemão vai complicar a vida deles e prejudicar os Aliados tanto quanto possa.

    Mas o nosso problema mesmo será descobrir como Hitchcock aparece: ninguém perde por esperar. Essa é uma de suas melhores aparições que fez, e das mais bem humoradas também.

    Já que estamos em ritmo de Segunda Guerra, nada mais a propósito do que embarcar, também, em "A Conquista da Honra" (2006, Cinemax, 21h), o belo filme em que Clint Eastwood nos leva ao destino dos soldados que ficaram a bandeira americana em solo inimigo após a terrível batalha de Iwo Jima.

    QUINTA-FEIRA (11)

    Se for para examinar friamente, a trama de "Magia ao Luar" (2014, TC Premium, 16h25) não resiste muito. Ali, um grande prestigitador é chamado a desmascarar uma vidente que está fazendo sensação na Riviera Francesa.

    Divulgação
    Emma Stone na comédia romântica "Magia ao Luar", de Woody Allen
    Emma Stone na comédia romântica "Magia ao Luar", de Woody Allen

    O mágico é inglês e cético. É Colin Firth. Mas a moça parece, de fato, possuir dons extraordinários para coisas como prever o futuro e, sobretudo, arrecadar um bom dinheiro com eles. Ela é a americana Emma Stone. Estamos no registro clássico: opostos que se atraem. A graça está em ver como isso acontece.

    "Leon Morin, o Padre" (1961, TV5 Monde, 20h30) não é o que se pode esperar de um filme de Jean-Pierre Melville. E, no entanto, é um belo filme. Ali, uma garota ateia confronta o padre Morin. O padre é Jean-Paul Belmondo e a época, a Segunda Guerra.

    Como opção, no TC Cult, às 15h30, o grandioso faroeste "Rio Vermelho" (1948), um irretocável Howard Hawks.

    SEXTA-FEIRA (12)

    Assim como o primeiro filme da série, "Red - Aposentados e Perigosos 2" (2013, TC Pipoca, 23h55) parte da simpática premissa de ser um filme de ação produzido para velhos atores. A começar de Bruce Willys, o duro de matar.

    Embora aposentado da CIA, ele é chamado de volta à ativa pelo amigo John Malkovich, uma espécie de cientista louco da tropa. A intriga importa pouco: para começar, existe a hipótese, já tão desenvolvida em outras partes, de armas nucleares soviéticas estarem soltas pelo mundo.

    Ok. Mas por que eles? Aí entra a justificativa principal: tudo é paranoia no filme. Já não se sabem onde estão os inimigos e nem, com frequência, quem são eles. Essa é, a rigor, a base da trama: o mundo pós-URSS tornou-se, curiosamente, um lugar cheio de traições e traidores (a ver: a série "Bourne"). Podia ter sido filme melhor, mas é agradável e está longe de ser indigna.

    SÁBADO (13)

    "O Lobo de Wall Street" (2013, HBO, 22h) não destoa da produção habitual de Martin Scorsese. O assunto ele busca num personagem marginal, "um qualquer", um "Mané", como se diz, disposto a mais ou menos tudo para triunfar no mundo das finanças. Em Wall Street. O nome é Jordan Belfort.

    Como em outros filmes de Scorsese, a violência é presente e acompanha o ritmo frenético, seja dos acontecimentos, seja da narrativa dos acontecimentos: é como se tudo fosse tocado a pó, como na vida dos personagens.

    Mary Cybulski/Divulgação
    Cinema: o ator Leonardo DiCaprio, em cena do filme "O Lobo de Wall Street", de Martin Scorsese
    Cinema: o ator Leonardo DiCaprio, em cena do filme "O Lobo de Wall Street", de Martin Scorsese

    Apenas que, aqui, a violência não consiste em trucidar outras pessoas com a morte: é, digamos, a violência do capital que é levada às últimas consequências.

    O filme acentua, no entanto, algo que na maior parte das vezes permanece embutido nos filmes: o humor. O que se deve à construção da personagem (e à sua trajetória), mas também, muito, a Leonardo di Caprio, em sua melhor interpretação.

    DOMINGO (14)

    Quem passar algum tempo numa locadora vai se espantar com a quantidade de títulos que Quentin Tarantino patrocina: ora é "elogiado por...", ora "o preferido de...". E por aí vamos. Vale para policiais e kung fu. Vale para americanos, asiáticos, franceses.

    Não se trata de má-fé. Tarantino é um cinéfilo e essa é a base de seus filmes. Talvez, desse americano que não sofre de angústia da influência, possa se dizer que seu grande predecessor é mesmo Brian de Palma.

    De Palma foi quem desenvolveu a ideia de um cinema que já não tem sua origem no mundo, mas na própria imagem. É isso, afinal, que vemos em "Kill Bill Volumes 1 e 2" (2003 e 2004, respectivamente, TC Cult, 19h55 e 22h).

    A Noiva (Uma Thurman), em sua empreitada de vingança, nos leva do faroeste ao extremo Leste, evocando todos os tipos de filmes de ação e aventura. A emoção é indireta, mediada pela imagem, mas o talento é direto.

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