• Ilustrada

    Monday, 29-Apr-2024 16:05:11 -03

    opinião

    O respeito à individualidade é instrumento de sociedades livres

    ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO
    HORTÊNSIA MEDINA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    10/06/2015 02h25

    A liberdade é um mistério, todo dia se decifra, todo dia se disfarça
    - Tom Zé

    Se você não consegue entender o meu silêncio, de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos
    - Oscar Wilde (1854-1900)

    O que esta em jogo é o direito à liberdade de informação e à intimidade. O biógrafo estuda a vida de alguém e depois publica, não é uma ficção. Há que se ter compromisso com a realidade retratada.

    Há uma aparente colisão entre princípios. Nenhum dos dois absoluto, até porque não há direito absoluto.

    O acesso à informação é poderoso elemento para a formação de opinião. O respeito à individualidade é instrumento para a formação de uma sociedade livre e plural.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Afirmar a superioridade do direito à informação sobre a intimidade será uma censura ao cidadão que quer ver preservada sua privacidade. Fazer uma objeção, desde que fundamentada, é um direito.

    Após a publicação, o que for falso ou injuriante, poderá ser questionado e vedado nas outras edições, sem prejuízo dos processos penais e de indenização.

    Garante-se o direito da publicação, mas também o de evitar a exposição indevida da vida privada. Dizer que recorrer ao Judiciário, caso ocorra um abuso ou uma lesão de direito, é uma forma de censura, é desprezar a dignidade da pessoa e a garantia constitucional de acesso à Justiça.

    O direito de informação encontra contornos na intimidade, na honra e na imagem das pessoas. É direito do biografado impedir que a sua vida seja dilacerada, adulterada.

    Esta fronteira na qual esbarra a liberdade de informação jamais pode ser entendida como censura. Há que se ter reserva para despir o véu que reveste a vida, o íntimo, a família da pessoa, por mais pública que seja.

    Tirando-se a necessidade de autorização prévia, os textos questionados estão em harmonia com a Constituição, uma vez que cuidaram de direitos fundamentais, entre eles a exposição da esfera íntima. Sem censura prévia, mas também sem ser censurado no direito de ter sua intimidade preservada, valorizando esta conquista democrática da preservação da privacidade.

    E beber da liberdade de Manoel de Barros: "A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos".

    ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, o KAKAY, é advogado, representante do cantor Roberto Carlos na ação sobre biografias não autorizadas no Supremo.

    HORTÊNSIA MEDINA é advogada, sócia do escritório Almeida Castro Advogados.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024