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    Cemitério da Consolação vira palco para contos de Edgar Allan Poe

    CAMILA APPEL
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/06/2015 02h20

    Se os contos de Edgar Allan Poe (1809-1849) já são perturbadores, mais macabros podem ficar se contados num cemitério. Seu universo inquietante é mesclado ao das benzedeiras do imaginário brasileiro em "Para Gelar a Alma", peça que estreia neste sábado (13), na capela do Cemitério Consolação, em São Paulo.

    Para o diretor e dramaturgo Márcio Araújo, o suspense é pouco usado no teatro. "Isso é mundial. Normalmente se opta pela comédia ou pelo drama. Foi muito interessante explorarmos esse gênero e os limites do que faz as pessoas sentirem medo."

    Lenise Pinheiro/Folhapress
     Abgail Tatit (esq.), Zeza Mota (centro) e Edi Fonseca em ensaio na capela do cemitério da Consolação.
    Abgail Tatit (esq.), Zeza Mota (centro) e Edi Fonseca na capela do cemitério da Consolação.

    Ele se inspirou em três contos de Poe para escrever o texto, baseado nos maiores medos, reais, das três atrizes do espetáculo. O medo de sofrer tortura, de "O Poço e o Pêndulo" (1842), o temor do afogamento, de "Descida ao Maelström" (1841), e o pânico de ser enterrado vivo, de "O Enterro Prematuro" (1844).

    As histórias são amarradas pelas figuras de três benzedeiras amaldiçoadas a nunca serem felizes no amor.

    Inicialmente, a peça não foi pensada para um cemitério. Mas surgiu a oportunidade de uma parceria com o serviço funerário do município, que se "empenha em transformar cemitérios em pontos de cultura e lazer, pois são parques de memória e vida", segundo a superintendente Lucia Salles França Pinto.

    "Os cemitérios não são fúnebres. Ao contrário, são patrimônios históricos e memória. É o que temos de mais vivo na gente", diz.

    CINETÉRIO

    Esta é a terceira peça a ocupar o cemitério da Consolação. A ideia é dar continuidade às atividades culturais por lá, como os shows de música e o Cinetério, exibições de filmes no espaço.

    Lucia diz que a única exigência feita às companhias teatrais e organizadores de outros eventos é que sejam espetáculos com entrada gratuita. "Para Gelar a Alma" foi patrocinado por uma fábrica de caixões.

    A adaptação ao espaço trouxe poucas mudanças no texto. Uma benzedeira que cuidava dos jardins da sua casa, por exemplo, passou a tratar o jardim do cemitério.

    Familiares de pessoas enterradas no local já reclamaram, afirmando que há profanação do local. Como resposta, foi colocado um pano preto em cima de um Jesus crucificado de aproximadamente três metros de altura, para descaracterizar a capela como ambiente religioso.

    Araújo diz que espera causar medo e estranhamento. Já a atriz Zeza Mota brinca: "Mesmo se não vier ninguém, temos público garantido: Monteiro Lobato, Oswald de Andrade, Paulo Goulart, Tarsila do Amaral, são todos convidados eternos", referindo-se a alguns dos túmulos famosos do Consolação.

    Ou seja, os ingressos para a temporada estão esgotados, mesmo antes de estrear.

    PARA GELAR A ALMA
    QUANDO sáb. e dom., às 19h; até 5/7
    ONDE Cemitério da Consolação, r. da Consolação, 1.660, tel. (11) 3256-5919
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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